O Espetáculo Populista

Que fique claro que me falta a paciência para o Dr. Ventura, o Chega e "sus muchachos". Deixei de ter capacidade de lhes aturar e desculpar as mentiras, as parvoices, a manipulação, o alarmismo, a teatralidade rasca, a retórica demagora e a falta de razão.

Neste folhetim melodramático e desesperado por atenção, acrescente-se agora mais um episódio a esta fotonovela, digna de um qualquer Corin Tellado, pela mão do deputado Francisco Gomes, que acaba de nos presentear com o que podemos chamar de circo político de mau gosto. Acredite-se ou não, o Sr. Gomes desenterra os mais arcaicos fantasmas xenófobos e embrulha-os numa retórica de "transparência" e "segurança". É de perguntar se acredita genuinamente nas palavras que profere ou se, simplesmente, vê vantagem eleitoral em fustigar as chamas do medo e da ignorância.

Para começar, o nosso ilustre deputado parece ter uma compreensão da realidade tão distorcida que, se não fosse trágico, seria material para comédia. Fala de uma "manobra inaceitável de encobrimento" como se a privacidade e a dignidade fossem conceitos inventados por traidores da pátria. Pergunto-me o que seria, nas suas palavras esclarecidas, uma política aceitável. Publicar nomes, endereços, e fotografias dos detidos em jornais diários?

Podemos argumentar, com uma pitada de ironia, que se a etnia e a religião dos indivíduos detidos fossem reveladas, e seguindo a demografia de Portugal, encontraríamos provavelmente uma predominância de indivíduos brancos, portugueses e católicos. Então, seguindo a lógica absurda e perigosa do Sr. Gomes, deveríamos instituir medidas especiais para estes grupos? Expulsá-los para garantir a "segurança nacional"? Esta ideia é tão ridícula quanto parece, e serve apenas para ilustrar a falácia e a irresponsabilidade das suas afirmações.

A obsessão do Chega com a "política de portas abertas" e a transformação de Portugal num "poço terceiro-mundista" é um deleite para quem aprecia um bom drama distópico. O deputado pinta um retrato tão sombrio e distorcido de Portugal que quase podemos esperar ver hordas de "criminosos, extremistas" a marchar pelas ruas. É um milagre, segundo esta visão apocalíptica, que ainda consigamos sair de casa sem ser "roubados, violados e agredidos".

O que o Chega propõe não é uma política, é uma paródia. Um retrocesso a um tempo onde a ignorância era uma virtude e a segregação uma política de Estado. A retórica do Sr. Gomes não é apenas irresponsável, é uma ameaça à própria essência da democracia portuguesa. Falar em traição aos valores da pátria? Olhe-se ao espelho Sr. Deputado e encontrará a verdadeira face da traição aos nossos valores ancestrais de humanismo, personalismo e defesa da dignidade humana.

O que o Chega oferece, embalado em falsa indignação e teatralidade barata, não é solução, mas sim sintoma de uma profunda crise de visão e integridade. É um manifesto à ignorância, um brinde ao medo, um convite ao retrocesso. E, se este é o futuro que nos propõem, então estamos, de facto, em apuros.

Não podendo aceitar estas fanfarronices, muito mais importante será que nos concentremos em políticas que promovam uma sociedade justa, inclusiva e verdadeiramente segura.

Dezembro de 2024

Nuno Morna



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