Financiar o Desastre com Estilo
Ouve-se muito por aí. “Já gastámos milhões”, “injectámos milhares”, “vamos despender mais dinheiro”. Há um problema, é encharcá-lo com dinheiro. Investir mais. A panaceia universal. Um bordão que qualquer político mediano repete como se tivesse descoberto o segredo da alquimia moderna. Transformar problemas crónicos em sucesso com umas quantas malas de dinheiro. “Mais dinheiro para a saúde!”, proclamam eles, como se o simples acto de despejar euros fosse curar um sistema onde cada consulta é uma odisseia e cada cirurgia um milagre agendado para as calendas gregas. “Mais fundos para a educação!”, berram outros, enquanto inauguram escolas que parecem centros comerciais, mas que continuam a produzir analfabetos funcionais em série. Como é fácil governar com esta fórmula: gastar mais e pensar menos.
O que ninguém se atreve a dizer — talvez porque não convém,
talvez porque a mediocridade lhes bloqueia o raciocínio — é que a quantidade de
dinheiro investido é irrelevante quando não há competência, visão ou, vá lá, um
mínimo de bom senso. De que serve despejar milhões num sistema de saúde onde os
gestores hospitalares tratam os orçamentos como se fossem monopólios? Ou na
educação, onde o foco está nas infraestruturas e equipamentos, enquanto o
ensino propriamente dito definha? Mas isso, claro, não dá para pôr nos cartazes
da campanha eleitoral.
E a cereja no topo do bolo? A corrupção, claro. Porque em
terra de chico-espertos, cada euro que entra num programa público faz saltar os
olhos de meia dúzia de abutres à espreita. Empresas “amigas” ganham concursos,
obras públicas transformam-se em buracos financeiros e os cidadãos, coitados,
ainda agradecem com um sorriso servil. “É melhor do que nada”, murmuram,
resignados, enquanto os seus impostos financiam obras desnecessárias e pontes
que ligam nenhum lugar a lugar nenhum. Sim, porque não se trata de resolver
problemas, mas de garantir que o dinheiro faz a sua volta por uns quantos
bolsos antes de, eventualmente, desaparecer.
No fundo, esta lógica de “investir mais” é uma piada de mau
gosto. É como tentar curar um doente com overdoses sucessivas. Mas ninguém quer
ouvir falar de reformas sérias, de cortar privilégios, de premiar a competência
ou de responsabilizar os incompetentes. Isso dá trabalho, tira votos e, acima
de tudo, põe em risco o grande desígnio regional, que é manter a aparência de
que se faz alguma coisa.
Continuemos a investir mais. Construamos mais escolas sem
professores capazes, compremos mais equipamentos médicos que ficam a ganhar pó
nos armazéns, e façamos mais “planos estratégicos” que ninguém lê. No final,
poderemos sempre culpar “a falta de dinheiro” quando tudo continuar na mesma
ou, quem sabe, pior. Afinal, a culpa nunca é de quem governa. É do destino, da
natureza, das circunstâncias ou, ironicamente, dos contribuintes que “não
compreendem” a genialidade desta fórmula.
Dezembro 2024
Nuno Morna
Comentários
Enviar um comentário