A Inflação Sobe, o Povo Afunda
A Madeira, qual feudo encantado de Miguel Albuquerque e
companhia, continua a demonstrar que a incompetência, quando bem cultivada, é
uma ciência exacta. Os dados do Índice de Preços no Consumidor para Janeiro de
2025 são um verdadeiro monumento ao fracasso: inflação de 3,5%, enquanto no
continente se fica pelos 2,4%; uma subida homóloga de 4,3%, contra 2,5% no
resto do país. E, claro, como já é tradição, ninguém tem culpa de nada. Os
responsáveis deste miserável espectáculo olharão para estes números como se
fossem um desastre natural, uma catástrofe inevitável enviada pelos Deuses. Ou,
melhor ainda, culparão o “contexto internacional”, essa entidade mítica que
serve para tudo, desde justificar a incompetência, o compadrio, a falta de
visão, até uma parasitagem institucionalizada.
Mas passemos ao detalhe, para que se perceba o requinte do
desastre. Os preços dos hotéis e restaurantes subiram 9,0%. Porquê? Porque o
turismo, essa vaca leiteira explorada até à exaustão, está nas mãos de meia
dúzia de iluminados que transformaram a Madeira num parque temático onde os
residentes são meros figurantes. O alojamento e a restauração continuam a
encarecer porque a política regional foi feita para garantir que só um punhado
de grupos económicos lucra à grande. Quem manda aqui não quer concorrência,
quer favores, benefícios fiscais, subsídios e garantias de monopólio. O
resultado? O madeirense comum paga cada vez mais para comer uma espetada e
beber um copo de vinho da casa.
Depois temos as telecomunicações, com um aumento de 6,5%.
Mas isso é porque a tecnologia ficou mais cara? Não, claro que não. É porque a
Madeira continua a ser um paraíso de oligopólios e mercados fechados, onde três
empresas cobram o que querem porque não há concorrência real. Na prática, o
governo regional permite que um cartel telecomunicações brinque com os preços à
vontade, enquanto os consumidores pagam alegremente a factura de viver num
arquipélago onde a modernidade chega sempre com duas décadas de atraso.
E depois há o grande escândalo da habitação. Rendas a subir
8,0% num ano, porque habitar na Madeira está a tornar-se um luxo reservado aos
estrangeiros endinheirados e aos especuladores imobiliários protegidos pelo
governo. O cidadão comum, que não tem uma conta bancária na Suíça nem ligações
aos círculos certos, que se amanhe. Mas não se preocupem, a solução do governo
regional será provavelmente criar um novo subsídio, em vez de mexer uma palha
para aumentar a oferta habitacional ou descomplicar a burocracia para quem quer
construir ou arrendar. A receita é sempre a mesma: manter o problema, para
depois oferecer uma esmola e garantir os votos necessários para perpetuar o
regime.
E assim se explica porque é que os preços dos serviços
aumentaram 5,4%, enquanto os bens apenas subiram 2,0%. Os bens são produzidos
em mercados onde há alguma concorrência. Os serviços, esses, estão reféns de
regulamentos absurdos, taxas inventadas e um Estado regional que serve
sobretudo para garantir que tudo funciona na base do favor e do privilégio. O
cidadão paga e cala, porque já interiorizou que viver na Madeira significa ser
espremido até ao tutano para alimentar a corte que se eterniza no poder.
E aqui chegamos ao verdadeiro propósito disto tudo: a
inflação é um imposto escondido. O governo regional não precisa de anunciar
aumentos de impostos porque a inflação trata do assunto por ele. Quanto mais os
preços sobem, mais IVA arrecada, mais imposto sobre o rendimento encaixa, mais
taxas e taxinhas cobra. O aumento da factura da luz? Mais receita para o
Estado. Os restaurantes a cobrar preços absurdos? Mais IVA para os cofres
públicos. A renda da casa a disparar? Mais extorsão legalizada.
O governo regozija-se com a inflação porque ela é a forma mais eficiente e
silenciosa de roubar os mesmos de sempre: os contribuintes. O Governo enche a
boca com impostos e bate no peito dizendo que “não aumentaram impostos”, mas
sabem perfeitamente que, no fim do mês, quem paga tudo isto é o cidadão comum,
que vê o seu dinheiro valer menos a cada dia que passa.
No fim de contas, estes números são apenas mais um capítulo
na longa história de um governo regional que não governa, apenas administra um
sistema de prebendas e privilégios. A Madeira continua a ser um laboratório de
experimentalismo político onde se testam os limites da paciência popular. A
inflação galopa, os preços disparam, o custo de vida torna-se insuportável, mas
o regime mantém-se, sólido e intocável, alimentado por um eleitorado que, ano
após ano, continua a validar este desastre. Nada muda porque ninguém quer
mudar. E enquanto isso, os preços sobem, os salários ficam na mesma, os
serviços pioram e os madeirenses são convidados a aplaudir este espectáculo
deprimente como se fosse um grande sucesso.
Fevereiro 2025
Nuno Morna
Sempre obectivo.
ResponderEliminarObrigado. Abraço.
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