REDE SOCIAL, 9 dezembro 2024
REDE SOCIAL
(in DN Madeira)
Orçamento
1. Orçamento 2025
Dezembro 2024
(in DN Madeira)
Orçamento
1. Orçamento 2025
Não é preciso ler muito para se perceber estarmos face a
um documento profundamente socializante, marcado por uma forte intervenção
estatal, péssima administração de recursos públicos e uma gestão económica que revela
claros alinhamentos com políticas de esquerda. Este orçamento prioriza o
controlo centralizado, a expansão do sector público, a dependência de subsídios
e um modelo de financiamento insustentável, comprometendo a sustentabilidade
económica, a liberdade de iniciativa e a eficiência na utilização de recursos.
Desde o início, percebe-se uma concentração excessiva de
poder nas mãos do Governo Regional, como é apanágio de políticas
intervencionistas e centralizadoras. Tudo para o Governo, tudo pelo Governo.
Este controlo é patente nas disposições que permitem alterações às dotações
orçamentais previamente aprovadas, bem como na cativação de verbas e na
redefinição de prioridades sem quaisquer limitações substanciais. O Conselho de
Governo Regional tem autoridade quase ilimitada para gerir operações de
endividamento, emissão de garantias e alocação de recursos. Este comportamento
centralizador reflecte uma visão estatista onde o poder se concentra nas mãos
do Estado sob a justificação de promover o “bem comum”, mas que, na prática,
mina a transparência e permite a manipulação dos recursos públicos para fins
político-partidários.
A política de subsídios e apoios proposta neste orçamento
é outro exemplo claro de um modelo socializante. “Se se mover, taxe-se; se se
continuar a mover, regule-se; se parar de se mover, subsidie-se.” São
atribuídos apoios a praticamente todas as áreas da vida económica e social,
desde a habitação e cultura até ao turismo e desporto. Este tipo de intervenção
pública promove uma dependência profunda do Estado, reduzindo a capacidade dos
sectores privados de operar de forma independente e competitiva. Esta abordagem
estatista distorce o mercado, elimina incentivos à inovação e perpetua ciclos
de dependência que beneficiam apenas os que estão integrados nos circuitos de
apoio estatal.
A expansão do sector público é uma prioridade evidente
neste orçamento. As progressões salariais na administração são aceleradas,
independentemente da produtividade ou do mérito, enquanto se autorizam novas
contratações e se aumentam os gastos com operações do sector estatal. Este
crescimento do aparelho público sobrecarrega os contribuintes e inibe o
investimento em sectores produtivos, concentrando recursos numa máquina estatal
pesada e pouco eficiente. O Estado como empregador principal e ignorando o potencial
criativo e dinâmico do sector privado.
O endividamento é um dos aspectos mais preocupantes deste
orçamento. A proposta permite um aumento considerável do endividamento líquido
regional, com prazos de amortização que podem chegar a cinquenta anos. Esta
estratégia transfere o peso financeiro para as gerações futuras, comprometendo
a sua capacidade de decidir sobre prioridades económicas e políticas. Em vez de
adoptar medidas de contenção de despesa, gerindo com parcimónia, de modo a
reduzir a dívida existente, o governo opta por um modelo de financiamento que
perpetua o ciclo de dívida, adiando os problemas e exacerbando-os. Este
comportamento é típico de políticas socialistas, onde o gasto presente é
justificado pela promessa de resultados futuros, ignorando a necessidade de
reformas estruturais que garantam sustentabilidade.
Apesar de algumas medidas de desagravamento fiscal no
IRS, o orçamento mantém a canga do IVA sobre os madeirenses. Esta combinação de
alívios fiscais populistas e manutenção de impostos pesados sobre o consumo é
característica de políticas de redistribuição que, embora apresentadas como
equitativas, penalizam todos e desincentivam o investimento. A redistribuição
de recursos feita desta forma perpetua desigualdades económicas e promove a
dependência do Estado, dificultando a criação de riqueza e oportunidades a
longo prazo.
A falta de mecanismos robustos de transparência e
fiscalização agrava ainda mais o problema. Continua a não existir nenhuma
referência a auditorias independentes que supervisionem a execução orçamental.
A fiscalização de subsídios e apoios depende de entidades internas, sem
garantias de imparcialidade ou eficácia. Esta falta de controlo externo é
típica de um controlo centralizado, favorecedor do clientelismo político e
reduz a responsabilização pelos desvios na utilização dos recursos públicos.
Este orçamento, com a sua ênfase em subsídios
indiscriminados, expansão do sector público, endividamento descontrolado e
centralização de poder, não deixa dúvidas quanto à sua natureza socializante e
à sua filiação ideológica. Privilegia o Estado como o motor da economia e da
sociedade, relegando para segundo plano a iniciativa privada, a eficiência dos
mercados e a autonomia das instituições. Este modelo de Estado paizinho, longe
de promover o progresso e a sustentabilidade, cria um ciclo de dependência e estagnação
que compromete o futuro da Região. A alternativa passa por uma abordagem
baseada na descentralização, na promoção da competitividade, na contenção de
despesas e na criação de um ambiente propício ao empreendedorismo e à inovação.
Sem estas reformas, a Madeira continuará presa a um modelo económico que
privilegia o imediatismo político em detrimento da sustentabilidade e do
desenvolvimento de longo prazo.
Um péssimo Orçamento que em nada destoa dos outros que o
antecederam.
2. 700 Páginas
Estava eu a debruçar-me sobre o Orçamento e o PIDDAR,
dois volumosos tomos de mais de 700 páginas, pejados de números, gráficos e
tabelas — um exercício que, confesso, mais parece destinado a testar a
paciência e a resistência de qualquer mortal — quando me ocorreu um pensamento,
desses que surgem entre o enfado e a reflexão: será que todos os que habitam os
corredores da política, com a sua pose bem posta e as suas prosas redondas, se
dão ao trabalho de abrir estes documentos, quanto mais os ler e analisar
com a devida atenção?
É evidente que não. Não são sequer necessários grandes
estudos para adivinhar que a esmagadora maioria passa ao largo destas páginas
como quem evita sarna para se coçar. Arrisco pensar que muitos nem sabem bem
onde estes documentos estão guardados. Talvez, no fundo de alguma gaveta, a
fazer peso, ou empilhados numa prateleira qualquer, longe dos olhos e, por
conseguinte, longe da consciência.
Mas deviam. É sua obrigação. Uma obrigação ética,
intelectual e, diria mesmo, moral. Porque quem se arroga o direito de decidir
sobre o destino de outros deve, no mínimo, saber exactamente o que está a
decidir. E isso implica ler, entender e questionar estes textos, que, com todos
os seus defeitos, são ainda o alicerce das políticas públicas.
Mas, claro, dá trabalho. Muito trabalho. E nesta época de
superficialidades e "soundbites", em que o esforço parece um
anacronismo e a substância uma relíquia, quem se atreve a descer às entranhas
dos números? Quem é que, entre uma selfie e uma frase de efeito, ou um drink de
dedo estendido, se atreve a passar uma tarde inteira a destrinçar colunas de
tabelas? É mais cómodo ficar pela superfície, pelo discurso vazio e pelas
promessas ocas, deixando o trabalho duro para os poucos que ainda têm algum
sentido de dever. Porque, convenhamos, trabalho a sério é coisa que atrapalha a
carreira, que impede as aparições no noticiário da RTP Madeira e as declarações
inflamadas sobre temas que, na verdade, nem compreendem.
E o que acontece? Os políticos, esses mesmos que preferem
os flashes das câmaras ao peso das tabelas, acabam por dar razão àqueles que os
criticam. Aos que os acusam de leviandade, de ignorância e de desprezo pelo
ofício. Porque, verdade seja dita, como respeitar quem não respeita o que faz?
O Orçamento e o PIDDAR, por mais áridos que sejam, não são apenas documentos
técnicos, são instrumentos de decisão, retratos de prioridades, espelhos de uma
visão — ou da ausência dela. Ignorá-los é ignorar o próprio acto de governar. É
reduzir a política a um conjunto de palavras ocas, a um desfile de figuras que,
com um sorriso ensaiado, dizem aquilo que julgam que o povo quer ouvir, porque
eles aqui e o povo ali, longe para que não incomode e atrapalhe.
E assim vamos, entre a indiferença e a ligeireza, a caminho de
um futuro onde a política, despida de substância, será apenas teatro. Um teatro
pobre, diga-se, com actores que nem sequer decoram as suas falas. Um teatro
onde a audiência já nem se importa em vaiar, resignada a assistir ao espetáculo
triste de quem finge, enquanto os verdadeiros problemas continuam, calmamente,
por resolver.
Dezembro 2024
Nuno Morna

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