O Não Só Mas Também.
[Quando todos são arguidos, ninguém o é. A arguidade como linguagem oficial do poder instalado.] Calado (e outros). Calado (e tantos). Calado (e quase todos). Calado com o seu fato escuro que parece comprado num sábado de manhã no Madeira Shopping, antes do almoço com a mulher que já não o escuta, com a camisa branca muito branca, branca como os lençóis passados a ferro pela senhora de Santa Quitéria que vai lá três vezes por semana e a quem ele nunca agradece, com os sapatos a brilhar não do uso mas do verniz, com o andar estudado e a gravata posta com precisão de funeral, a sair da Polícia Judiciária como quem sai de uma pastelaria em São Martinho depois de um café curto e dois dedos de conversa sobre o tempo, o tempo que está abafado, sim, abafado, abafado como tudo por aqui, abafado como esta terra onde já não se respira e onde ser arguido passou a ser o novo passaporte para o poder. Dizia-se há dias, nos jornais, nas rádios, nos sussurros mornos das redacções, que Calado " t...