A Casa da Amelinha
Miguel Albuquerque, na sua infinita sabedoria e superioridade iluminada, declarou, com o ar de um César provinciano, que “isto não é a casa da Amelinha”. Extraordinário! Quem diria que o presidente, depois de anos a transformar a Madeira num circo de incompetência e amiguismo, ainda tem a audácia de fingir que reina sobre um modelo de rigor e disciplina. Não, caro presidente, não se iluda: isto é precisamente a casa da Amelinha, e o senhor não é mais do que o porteiro incompetente que perdeu as chaves, deixou os ratos tomarem conta da dispensa e agora culpa os inquilinos por não limparem o lixo que o senhor espalhou.
A sua governação é um caso de estudo na arte de destruir qualquer vestígio de seriedade. Sob a sua batuta desafinada, o Governo Regional transformou-se numa tragicomédia de terceira categoria, onde os actores tropeçam nos seus próprios papéis e os bastidores ardem enquanto o público assiste, impotente, ao desastre. O senhor gaba-se de grandes feitos – obras, festas, festivais –, mas tudo o que nos entrega são rotundas e túneis, projetos megalómanos que nem um estagiário de engenharia aprovava, e uma ilha onde o turismo é explorado como uma vaca leiteira prestes a desmaiar de exaustão.
E o mais fascinante nesta peça é a sua habilidade quase artística para a negação. Porque, claro, a culpa não é sua. Não, nunca é sua. É dos outros. São os críticos, os cidadãos ingratos, a oposição inexistente, ou talvez o clima tropical que desfaz as suas promessas no calor da realidade. No seu mundo encantado, as falhas são sempre acidentes infelizes, desvios imprevistos na perfeição do seu plano divino. Ora, tenha dó. Nem os seus apaniguados mais servis e cegos acreditam nisso.
Mas o mais sublime, o mais profundamente irónico, é a sua incapacidade de reconhecer o óbvio: o caos e a desorganização que define esta sua Madeira não são acidentes; são o produto directo da sua liderança. Isto é a casa da Amelinha porque o senhor fez questão de deixar as portas abertas para os compadrios, para os interesses mesquinhos, para a mediocridade que tomou conta de tudo. É a casa da Amelinha porque a autoridade desapareceu, porque as regras só se aplicam aos outros, porque o seu governo vive num estado perpétuo de improvisação e irresponsabilidade.
No fundo, Miguel Albuquerque, o senhor não é mais do que o mordomo incompetente desta casa. Insiste em varrer o pó para debaixo do tapete, mas o pó acumula-se. E, quando alguém aponta o desmazelo, o senhor, indignado, proclama que “isto não é a casa da Amelinha”. Pois saiba, caro presidente: a sua negação é a única coisa que ainda nos faz rir. Pena é que já nem disso temos vontade.
Dezembro 2024
Nuno Morna
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