Moção de Censura - Intervenção no Debate

Deixo aqui a minha intervenção de hoje no Debate da Moção de Censura. Está a versão longa, pois tive de cortar umas partes devido ao pouco tempo que tinha.


Intervenção na ALRAM – Moção de Censura

 

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados,

Permitam-me começar pelo essencial: esta Assembleia é, ou deveria ser, a casa da Autonomia. Não a autonomia simbólica, não a autonomia de conveniência, mas a Autonomia dos madeirenses. A autonomia que nos foi entregue não como dádiva, mas como reconhecimento da nossa capacidade de nos governarmos, de decidirmos o nosso futuro, de sermos donos do nosso destino.

E, no entanto, olhem para o que estamos aqui a fazer hoje. Como é que chegámos ao ponto de estar, nesta mesma casa da Autonomia, a discutir uma moção de censura que não é nossa? Uma moção que não nasce da nossa realidade, dos nossos problemas ou sequer do nosso entendimento do que aqui se passa, mas que nos é imposta por Lisboa.

Como é que podemos permitir que o Chega, pela mão de André Ventura — um homem que pouco ou nada sabe sobre a Madeira, que não partilha da nossa história, da nossa cultura ou das nossas angústias — condicione os debates desta Assembleia? Como é possível que a agenda política da Madeira seja ditada por alguém que não tem absolutamente nada a ver connosco, um anti autonomista, que desconhece os nossos desafios e que faz da Madeira apenas mais um palco para a sua interminável campanha de espectáculo de chunga política e polémica?

Como é que podemos tolerar que um partido como o Chega, que se alimenta do ressentimento, da ignorância e do espectáculo fácil, venha agora dar lições de moral à Madeira? O Chega não é mais do que um projecto político tóxico, liderado por um homem cuja única estratégia é gritar mais alto do que os outros, sem qualquer respeito pelas instituições, pelas pessoas ou pela verdade. Um partido que não constrói, que não propõe, que não sabe o que significa governar. Um partido que existe para dividir, para espalhar o ódio e para instrumentalizar as fragilidades da democracia em benefício próprio. André Ventura e o Chega não conhecem a Madeira, não respeitam a Madeira e não têm absolutamente nada a oferecer à Madeira. São um parasita político, um ruído inútil e uma ameaça à própria dignidade da nossa Autonomia.

E, depois, temos o Partido Socialista. Um partido que, neste momento crítico, resolve votar a favor de uma moção de censura que, pasmem-se, o acusa de ser cúmplice no estado de coisas em que nos encontramos. Como pode o PS apoiar uma moção que o incrimina, que o apresenta como parte do problema? Só posso concluir que o PS, na Madeira, não sabe o que faz. É um partido fraco, sem estratégia, sem liderança, sem qualquer visão para esta terra.

Um partido socialista que deveria ser a alternativa credível, o pilar de uma oposição forte e esclarecida, mas que prefere transformar-se num eco vazio, incapaz de apresentar ideias, incapaz de liderar o descontentamento que é legítimo, incapaz de propor um caminho melhor.

O PS, um partido que mais parece uma sombra do que deveria ser. Incapaz de liderar, incapaz de assumir o seu papel como oposição, e incapaz de oferecer qualquer esperança aos madeirenses. Este PS é um desastre político, uma organização que se arrasta de erro em erro, sem rumo, sem ideias, sem coragem. É um partido que tem medo de si próprio, que não sabe combater o governo porque está demasiado ocupado a sobreviver à sua própria irrelevância. O PS da Madeira não é alternativa, não é oposição, não é nada. É uma mancha cinzenta no panorama político desta terra, um reflexo gritante da mediocridade que permite que este governo desastroso continue a reinar sem contestação. A falta de estratégia, de liderança e de dignidade política no PS é uma traição aos madeirenses e ao próprio legado da democracia na Madeira.

E o resultado, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, é este o espetáculo deprimente. Do lado do governo, temos Miguel Albuquerque e o seu executivo, que parece decidido a inscrever o seu nome na história pelos piores motivos: como o governo mais trapalhão, mais caótico e, quem sabe, com mais arguidos do mundo.

Um governo que mete o bedelho em tudo, que procura controlar tudo, mas que não consegue governar nada. Um governo que acumula escândalos, um atrás do outro, como se fosse a única coisa que sabe fazer com consistência. Um governo que nos envergonha, que desacredita a Autonomia e que mina a confiança dos madeirenses nas suas próprias instituições.

E do outro lado? Uma oposição que é tudo menos oposição. Um PS que não lidera. Um PS que se limita a reagir, de forma atabalhoada, sempre um passo atrás dos acontecimentos, como se ainda estivesse a tentar perceber o que se passa à sua volta. Um PS que prefere apoiar uma moção de censura nascida em Lisboa, comandada por André Ventura, do que assumir o seu papel como força política autónoma, com propostas, com ideias, com uma visão para a Madeira.

Isto, Senhores Deputados, não é política. Isto não é Autonomia. Isto é uma farsa, e é uma farsa que envergonha a Madeira.

Não há aqui vencedores, porque do lado do governo temos o caos, a corrupção, a mediocridade, e do lado da oposição temos a fraqueza, o desnorte, o vazio político. Quem perde, como sempre, é o povo da Madeira, que assiste a tudo isto com a sensação de que ninguém está realmente interessado em resolver os seus problemas, em melhorar as suas vidas, em defender os seus interesses.

Senhor Presidente, Senhores Deputados, termino como comecei: esta casa é a casa da Autonomia. E a Autonomia não pode ser isto. Não pode ser o governo mais trapalhão da história. Não pode ser uma oposição sem ideias. Não pode ser um palco para personagens de fora que nada têm a ver connosco.

A Autonomia é para servir os madeirenses. É para lhes dar poder, dignidade e futuro. Tudo o resto é indigno desta Assembleia e da Madeira.

O que me apetece, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, é sair daqui, seguir em frente e sair por aquela porta deixando para trás esta indignidade, este verdadeiro atentado à Autonomia, esta ingerência de Lisboa nos nossos assuntos.

Mas não vou fazê-lo. E não vou fazê-lo porque não suporto a mentira. E aquilo que o Governo tem feito nos últimos dias é mentir. Mentir constantemente sobre a não execução orçamental. E tem consigo o PSD, o CDS e alguma imprensa que se recusa a explicar aos madeirenses que a Lei de Execução Orçamental é clara sobre o modo como governar nestes casos. A governação não pára, a não ser que esteja parada. Como na rotunda da Cancela, na Marina do Funchal, ou a meio gás como na Unidade Local de Saúde do Porto Santo. A obra do Hospital não vai parar, nem vão parar as obras do PRR. Quem o diz mente e como tal é mentiroso.

Assim, fico na sala. E voto. Voto a favor da Censura que é o que este governo chantagista, incompetente e mentiroso merece. Censuro a mentira, censuro a incompetência e censuro a chantagem. E por mais que se esforcem não há Bispo que vos salve, ou Deus que vos perdoe.

Muito obrigado.

Nuno Morna, 17 dezembro 2024




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