O Banquete dos Mediocres
Imaginem um circo. Não o circo romano, claro, porque isso implicaria alguma forma de talento ou destreza, por mais sanguinária que fosse. Não, falo de um circo decadente, daqueles com lona rasgada e palhaços gastos que tropeçam uns nos outros ao som de cornetas desafinadas. Esse é o palco em que o Governo Regional decidiu, mais uma vez, exibir o seu número favorito: o assalto à coisa pública - dessa vez com a entrega solene de meia centena de tachos devidamente polidos e prontos para o uso.
Após uma Moção de Censura que devia ter servido para pelo menos disfarçar alguma vergonha, eis que os diligentes senhores do poder decidiram premiar-se com mais nomeações. Fizeram-no com a graça de um elefante bêbedo em loja de porcelanas. Porque não basta sobreviver politicamente. É preciso celebrar. E como se celebra na Madeira do Presidente Miguel Albuquerque? À madeirense: enfardando os cofres públicos até à náusea, dando um emprego aqui, um lugar acolá, e, de preferência, sem esquecer o primo, o vizinho e o membro da juventude partidária que não distingue uma pasta de um estojo, mas merece um gabinete com porta dourada.
Isto não é um Governo, é uma agência de emprego familiar. É o sucesso de uma fórmula que, infelizmente, nunca falha: o orçamento como catálogo de sinecuras e a Administração Pública como armazém de parasitas. "Estabilidade", dizem eles. Claro. Não há estabilidade como a de uma horda de nomeados a quem o cartão partidário pesa mais do que qualquer competência — aliás, "competência" deve ser uma palavra censurada na Quinta Vigia, não vá algum desmiolado propor algo semelhante na selecção dos afortunados.
Quanto aos contribuintes? Os madeirenses que trabalham, pagam impostos e aguentam o espectáculo grotesco? Esses que se lixem. Que acreditem, piedosos, que as meias centenas de novos nomeados foram escolhidos por mérito e urgência. Que compreendam, coitados, que, num momento tão "delicado", é crucial empregar um batalhão inteiro de figurantes. Afinal, governar não é resolver problemas, é distribuir prebendas. Que se lixe o rigor, que se dane a contenção. Quem governa são eles e, enquanto o rebanho continuar a votar obedientemente, os tachos estarão seguros.
Diz o Presidente que tudo isto é normal. Que se deve manter o "funcionamento do sistema". O "sistema", caro leitor, é esta máquina voraz que suga recursos e cospe mediocridade, onde o mérito é tratado como doença contagiosa e a lealdade ao chefe vale mais do que uma licenciatura. São precisos novos administradores, chefes de divisão, directores de coisa nenhuma? Sim, são precisos. São precisos para garantir que a Madeira, ao fim de quase 50 anos, continue a ser governada como uma quinta, uma pocilga de onde só saem os porcos mais gordos, sempre prontos para mais uma refeição paga pelo povo.
No final, claro, o Governo agradece a compreensão dos "cidadãos". Mas o agradecimento é inútil, porque quem paga a factura não é convidado para o banquete. Eles, os donos disto tudo, comem. Os outros? Olham para o prato vazio e, como sempre, batem palmas.
Dezembro 2024
Nuno Morna
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