O Copy-Past e a Vergonha Nacional
É verdadeiramente notável, um feito digno de ser imortalizado nos anais da imbecilidade nacional, que um partido político consiga, num único momento, condensar todo o seu amadorismo, despreparo e completa ausência de vergonha na cara. O Chega, sempre tão ansioso por gritar indignações da bancada, conseguiu agora ultrapassar-se a si próprio, admitindo, com a candura de um puto ranhoso apanhado a copiar nos testes, que fez “copy-paste” num parecer oficial. Sim, leu bem: “copy-paste”. Não é um "sketch" dos Gato Fedorento, é a realidade política portuguesa.
Este “pequeno erro” — como se lhe referem, numa tentativa patética de diminuir a gravidade do episódio — não é apenas um lapso técnico. É um manifesto de incapacidade, uma ode à mediocridade. O partido que clama ser a última linha de defesa da pátria e dos valores nacionais não conseguiu sequer produzir um parecer decente sobre a nomeação de um vice-presidente para a AMT (Autoridade de Mobilidade e dos Transportes). Nem sequer se deram ao trabalho de fingir que sabem o que estão a fazer. Limitaram-se a copiar. Quem sabe, talvez esperassem que ninguém notasse. Afinal, no reino da incompetência, a ambição é baixa.
E, claro, não falta a desculpa esfarrapada. Filipe Melo, com a profundidade intelectual de uma colher de plástico, sai-se com um inacreditável: “Admito que errámos, fizemos copy-paste.” Admito que errámos? Isto não é um erro. Um erro é deixar cair uma chávena de café em cima do vestido da noiva. Isto é um atestado público de inutilidade, um convite ao descrédito absoluto.
O mais trágico — ou cómico, dependendo da perspectiva — é que este partido tem a desfaçatez de exigir respeito e ser levado a sério. Como é que alguém pode confiar numa força política que, num momento de verdadeira responsabilidade, escolhe o caminho mais preguiçoso e desonesto? Será que, para o Chega, “trabalho parlamentar” é sinónimo de fazer uma pesquisa no Google e colar o primeiro resultado no Word? Talvez seja. Afinal, nada como a simplicidade quando se tem absoluta certeza de que o eleitorado está mais interessado no circo do que no conteúdo.
Sejamos justos, talvez esta confissão de incompetência seja um raro momento de sinceridade. Talvez o Chega nos esteja a mostrar, sem filtros, o que realmente é — uma farsa ruidosa, uma colecção de amadores deslumbrados com os holofotes, incapazes de desempenhar o papel que, inexplicavelmente, lhes foi confiado pelos eleitores.
No final, sobra-nos apenas a vergonha. Vergonha por termos de assistir a este espectáculo degradante. Vergonha por vivermos numa democracia onde os palhaços já nem se preocupam em maquilhar-se antes de entrarem em cena. E, claro, a mais profunda e amarga das vergonhas: a de saber que, no Parlamento, o “copy-paste” é agora, oficialmente, uma metodologia de trabalho.
Dezembro 2024
Nuno Morna
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