Ordenado Mínimo Regional, a Farsa
Numa das habituais demonstrações de entusiasmo por conquistas de pacotilha, a região da Madeira celebra agora o aumento do salário mínimo regional como se se tratasse de um feito digno de figurar nos anais da história. No entanto, o que temos diante de nós é uma manifestação de mediocridade disfarçada de progresso, uma narrativa encenada para ocultar o fracasso político e social de uma região que continua refém de um sistema disfuncional e de uma classe dirigente desprovida de visão ou ambição.
O texto, impregnado de uma retórica triunfalista, celebra o aumento de 65 euros no salário mínimo de 2024, elevando-o para os supostos grandiosos 915 euros. Mais impressionante ainda, dizem os governantes, é o facto de, desde 2007, o salário ter aumentado 503,84 euros, o que equivale a um crescimento de 122%. Ora, é precisamente aqui que reside o primeiro absurdo: apresentar números absolutos e percentagens acumuladas ao longo de 18 anos como se fossem uma proeza é uma manobra tão desonesta quanto desesperada. Em termos reais, descontada a inflação e considerando o aumento do custo de vida na região, é altamente discutível se este crescimento traduz algum ganho significativo para os trabalhadores madeirenses.
Mais, o custo de vida na Madeira é notoriamente superior ao do continente, fruto da insularidade e da consequente dependência das importações. Mesmo que o nosso salário mínimo madeirense tenha o valor agora anunciado e superior ao nacional, a realidade é que esse montante está longe de compensar os preços inflacionados de bens e serviços essenciais na região. A comparação com os Açores, usada como táctica de distração, ignora deliberadamente a verdadeira questão: o poder de compra efectivo dos madeirenses é insuficiente e continua a deteriorar-se.
A narrativa gloriosa também silencia um ponto crucial: o salário mínimo, por definição, é um indicador do patamar mais baixo da escala salarial. Celebrar o seu aumento sem mencionar as condições dos restantes trabalhadores é um truque político para esconder uma estagnação salarial mais ampla e uma economia incapaz de criar empregos qualificados e bem remunerados. O foco exclusivo no salário mínimo revela não apenas a ausência de soluções estruturais, mas também a pobreza das ambições da classe dirigente.
O verdadeiro objectivo deste aumento é claro: propaganda. Trata-se de alimentar uma narrativa de progresso para mascarar o marasmo em que a Madeira está mergulhada. O governo regional prefere exibir troféus simbólicos a enfrentar desafios reais: diversificar a economia, reduzir a dependência de subsídios externos e criar um futuro digno para os madeirenses. Estes aumentos pontuais e insuficientes são um paliativo, um álibi para justificar a inacção e perpetuar um sistema que beneficia poucos à custa da maioria.
Celebrar este aumento do salário mínimo é uma tentativa pueril de distrair os madeirenses das falhas crónicas de uma governação que se limita a gerir expectativas em vez de construir soluções. A Madeira, em vez de caminhar para a frente, está condenada a andar em círculos, prisioneira de uma visão política tacanha e de uma ambição tímida que não merece o povo que serve.
Dezembro 2024
Nuno Morna

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