A Culpa é do Povo

Herberto Jesus, o presidente do Conselho de Administração do SESARAM, encontrou finalmente uma solução para os crónicos problemas do sistema de saúde madeirense: culpabilizar os utentes. É verdade. A falta de camas hospitalares, que seria, à partida, uma consequência óbvia de décadas de desleixo e incompetência estrutural, não é culpa da administração, nem do governo regional. É culpa de quem adoece.

Isto não é só um insulto à inteligência, é a expressão pura de um cinismo institucional que grassa na nossa terra. Ao invés de reconhecer o evidente: que o sistema de saúde regional foi deixado à míngua por sucessivas administrações incapazes de planear o futuro, Herberto Jesus decide atribuir aos cidadãos a responsabilidade pelos próprios sofrimentos. Se isto não fosse tão trágico, seria apenas ridículo.

A questão das camas — ou da falta delas — é apenas o reflexo de um sistema apodrecido. Não há recursos, não há pessoal suficiente, não há planeamento. As urgências transbordam, os profissionais trabalham extenuados, e os utentes esperam semanas ou meses por um atendimento decente. Mas, claro, para Herberto Jesus, a culpa é dos utentes, que teimam em ocupar espaço, como se fossem um incómodo administrativo e não a razão de ser do próprio sistema.

O que isto revela, na verdade, é o desprezo de uma elite política regional pela população que supostamente deveria servir. A Madeira tornou-se num microcosmo de uma governação sem sentido, onde os governantes vivem num universo paralelo, convencidos da sua infalibilidade, enquanto o cidadão comum se arrasta entre a incompetência burocrática e o desamparo.

Herberto Jesus é um produto natural do regime de Miguel Albuquerque. Num governo onde os erros se acumulam, sempre houve uma solução prática: culpar as vítimas. E, no entanto, por mais que tentem empurrar as suas responsabilidades para o povo, a realidade é por demais evidente, o SESARAM não tem camas porque foi gerido por décadas por pessoas que não percebem nada de saúde pública e muito menos de gestão. Não há camas porque não houve coragem para investir. Não há camas porque, para esta gente, os cidadãos não passam de números incómodos.

Este episódio — triste, mas emblemático — é só mais um capítulo da lenta e inexorável decadência da Madeira enquanto exemplo de um regime que desistiu de governar e se limita a culpar os governados. Num mundo racional, Herberto Jesus estaria a explicar-se no Parlamento ou a apresentar a sua demissão. Mas, na Madeira de Albuquerque, tudo isto passará sem consequências. Afinal, o povo tem sempre a culpa… nem que seja porque os elege.

Janeiro 2025

Nuno Morna

 


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