É preciso ter lata para dizer “é preciso ter lata”

Pedro Ramos, esse virtuoso da saúde madeirense, veio ontem a público, com a subtileza de um elefante numa loja de cristais, vociferar aos quatro ventos o seu lamento patético e gabarolice barata. Diz ele, com a soberba típica de quem se acha impune: “É preciso ter lata”. Ora, se há alguém que encarna essa expressão como um hino pessoal, é o próprio. Este secretário, que mais parece um propagandista de segunda linha, escolheu como palco um evento que deveria homenagear enfermeiros – profissionais que trabalham no limite do aceitável, enquanto ele se dedica à arte de cuspir culpas e glorificar a mediocridade.

Aos líderes da oposição, Ramos acusa de mentirosos e de viverem na ilusão dos duodécimos, como se fosse um terrível sacrilégio pensar em governar sem o seu sacrossanto Orçamento. Mas vejamos a realidade nua e crua: este governo, liderado pelo iluminado Miguel Albuquerque, teve sete anos para provar que conseguia algo mais do que números pomposos e promessas vãs. O resultado? Caos na Saúde, listas de espera intermináveis, fuga de profissionais para o privado e um sistema de protecção civil que colapsa à primeira crise. “4 mil milhões de euros”, proclama Ramos com orgulho, como se o simples despejar de dinheiro fosse sinónimo de boa gestão. Mas onde estão os resultados? No papel de imprensa e nas entrevistas de autoelogio.

Ramos, ao tentar usar a queda do Governo como desculpa para o incumprimento das promessas, confirma aquilo que todos já sabíamos: não há plano, não há estratégia, apenas um exercício desesperado de atirar responsabilidades para quem estiver à mão. Dos prometidos 200 enfermeiros, só 80 serão contratados, e a culpa, claro, é da oposição. A mesma oposição que, segundo ele, “cospem no prato que nos alimenta há mais de 48 anos”. Este prato, que Ramos tanto defende, está sujo de compadrio, má gestão e uma arrogância que tresanda. E é o prato que o alimenta lambido sofregamente até à última gota, até ao último grão.

O verdadeiro problema é este regime cansado e bolorento, que vive de slogans vazios e de uma relação tóxica com o poder. É preciso, sim, ter lata para governar como governam, sem um pingo de autocrítica, perpetuando um ciclo de mediocridade e deixando a Madeira à deriva. Se Pedro Ramos fosse um homem sério, entenderia que o povo já se fartou das suas encenações. Mas, como é evidente, Ramos e companhia não sabem mais do que isto: gritar, culpar, gastar. A lata não é deles, é nossa, que ainda os aturamos.

Janeiro 2025

Nuno Morna



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