Inflação 2024: Assalto ao Bolso dos Madeirenses

Como começar sem mencionar o imposto invisível e o mais eficaz de todos? Um dos impostos que qualquer governo aprecia. Aumentam os preços e aumenta a colecta por parte do estado. A inflação, esse ladrão gentil que não escolhe bolsos. Enquanto os salários permanecem estagnados, os preços galopam alegremente ao sabor da alegada conjuntura económica. É uma forma tão subtil de espoliação que quase merece aplausos… quase.

A inflação na Madeira, esse discreto demónio dos tempos modernos, fez o favor de descer de um exorbitante 5,0% para um ainda robusto 3,3% em 2024. Naturalmente, as autoridades festejarão este acontecimento como uma vitória da economia insular, um milagre matemático que só não convence aqueles que, infelizmente, têm de viver com as consequências destes números no seu dia-a-dia.

Comecemos pela inflação subjacente, esse verdadeiro termómetro do sofrimento do cidadão comum, que se manteve a um caloroso 3,7%. Esqueçam os produtos alimentares não transformados e energéticos, afinal, quem precisa de comer ou aquecer as casas no meio do Atlântico? O custo dos bens essenciais continua a subir, mas, claro, isso são apenas detalhes que não devem atrapalhar a bela narrativa de estabilização económica.

E os serviços, esses, sim, decidiram mostrar como se faz um verdadeiro aumento, saltando para 5,3%. Educação, saúde, transportes? Luxos, evidentemente, que devem ser devidamente tributados pela inflação, essa mestra silenciosa que sabe exatamente onde doer mais. Quem precisa de acessibilidade quando se pode ter exclusividade?

No reino dos Restaurantes e Hotéis e da Habitação, a situação é ainda mais hilariante. Um aumento de 8,5% e 4,2%, respectivamente, é a prova de que a Madeira é verdadeiramente um paraíso – para quem pode pagar, claro. O resto que se contente com a beleza das paisagens, que ainda não conseguiram taxar... até ver.

E as rendas de habitação? Essas subiram 7,1%. Uma verdadeira pechincha, se considerarmos que falamos de uma ilha onde o solo deveria, em teoria, ser mais valioso que ouro. Não é maravilhoso como conseguem transformar a necessidade de moradia numa extravagância?

Portanto, enquanto os números bailam nos relatórios e as estatísticas são celebradas em conferências, os cidadãos da Madeira podem descansar tranquilos, sabendo que a sua qualidade de vida está a ser meticulosamente corroída por uma inflação que é menos um sintoma e mais um sistema. Um brinde, então, à gestão económica que consegue transformar a luta pela sobrevivência numa arte de números e percentagens.

Janeiro 2025

Nuno Morna




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