Madeira sem remédios, Governo sem vergonha
Cada dia que passa confirma que a Madeira vive um escândalo
sanitário de proporções terceiro-mundistas. A falta de medicamentos, denunciada
pela Ordem dos Médicos, não é um incidente isolado, uma pequena falha de gestão
que se possa corrigir com meia dúzia de ajustes técnicos. Não. É um sintoma de
uma governação podre, incompetente e irresponsável, sustentada por décadas de
clientelismo, amiguismo e arrogância. O que acontece na Saúde da Madeira não é
um erro: é um crime.
Os hospitais da região, outrora apresentados como um suposto
“exemplo” do modelo autonómico, não conseguem sequer garantir o básico — os
medicamentos essenciais para tratar os doentes. É preciso repetir para que se
entenda a gravidade do que está em causa: não há medicamentos. As prateleiras
estão vazias, os médicos são obrigados a improvisar terapias, a substituir
fármacos sem qualquer critério que não seja a sua mera disponibilidade ou
escassez. E o Governo Regional e o Secretário da tutelo, Pedro Ramos, como
sempre, assobia para o lado, culpa os “desafios logísticos”, os fornecedores, a
conjuntura internacional — qualquer coisa serve, desde que a culpa nunca seja
sua.
O que este desastre revela, mais do que tudo, é a total
ausência de uma cultura de responsabilidade. Nenhum governante, nenhum
director, nenhum burocrata se sente minimamente obrigado a assumir as
consequências do seu falhanço. Podem faltar medicamentos para doentes
oncológicos. Podem os médicos alertar para o caos. Podem os doentes sofrer
desnecessariamente. Nada disto importa. O que importa é manter os cargos,
proteger os amigos, garantir que o sistema continua a funcionar, não para
servir os cidadãos, mas para alimentar uma classe política que se julga
intocável.
E os resultados são os que estão à vista. Há doentes a quem
se receitam tratamentos que não podem ser cumpridos. Há médicos que tentam
trabalhar sem as ferramentas mais básicas. Há sofrimento evitável, mortes
prematuras, vidas condenadas a uma precariedade que nada tem a ver com a
condição médica, mas com a incompetência política.
A Madeira vive um regime que se esgotou. O descalabro da
Saúde é apenas um dos sintomas mais visíveis de um modelo que já não serve para
nada a não ser perpetuar os mesmos erros, os mesmos vícios, as mesmas desculpas
esfarrapadas. Perante isto, alguém espera que os responsáveis renunciem, que
alguém assuma a culpa? Não, claro que não. Na Madeira, como em tantos outros
lugares deste país, a responsabilidade morreu há muito. Resta aos madeirenses
perguntarem-se quantos mais anos de miséria e humilhação estão dispostos a
tolerar antes de exigirem uma mudança real. Se é que ainda são capazes.
Janeiro 2025
Nuno Morna
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