O Campeonato Distrital da Política

Não há espectáculo mais ridículo, mais tristemente patético, do que o estado em que se encontra a política regional, reduzida a uma espécie de jogo barato aonde os partidos são clubes de futebol e os líderes, meros treinadores, sujeitos à infame "chicotada psicológica". As multidões, ávidas de emoção e profundamente incapazes de pensar, aplaudem ou vaiam consoante o último resultado eleitoral, sem qualquer consideração por ideias, programas ou, Deus nos livre, princípios. Tudo se resume a ganhar ou perder, como num jogo de fim de semana.

Os militantes dos principais partidos - ou será mais adequado chamá-los hooligans? - não querem saber de políticas públicas ou de reformas estruturais. Isso dá demasiado trabalho, exige demasiado neurónio, e, francamente, quem quer perder tempo com chatices dessas? O que interessa é gritar o nome do partido quando o líder surge no palco, como se ele fosse um qualquer Cristiano Ronaldo da política. A multidão não ouve o que ele diz, ou melhor, ouve, mas não entende, porque nada há para entender. Basta que a voz do líder tenha o tom certo de messianismo vazio, e pronto, a turba entra em êxtase.

E, como no futebol, o líder vive e morre pelos resultados. Se ganha umas eleições - mesmo que sejam insignificantes, mesmo que a vitória seja fruto de sorte ou de incompetência alheia - é tratado como um génio, um estratega brilhante, um visionário capaz de levar o partido à glória eterna. Mas, ao primeiro deslize, ao primeiro sinal de fraqueza, eis que as mesmas massas que o endeusavam se transformam em carrascos, clamando pela sua substituição imediata. "Precisamos de renovação!", gritam, como se mudar de rosto garantisse, por milagre, a resolução de todos os problemas. Entra então em cena a famosa "chicotada psicológica", um ritual que, supostamente, injecta ânimo nas bases. Na prática, não passa de um pretexto para encenar mais uma vez o mesmo circo, agora com um novo palhaço no centro da arena.

O que espanta, no entanto, é como esta infantilização da política se estende a todos os níveis da sociedade. Jornalistas, comentadores, funcionários, professores, supostas figuras de autoridade e de intelecto, alinham alegremente neste teatro absurdo. Escolhem o seu lado, defendem-no com uma lealdade canina e atacam os adversários com a fúria de quem defende o bom nome de uma equipa de matraquilhos. Não há espaço para a análise crítica ou para a honestidade intelectual, há apenas propaganda, disfarçada de opinião, para alimentar esta histeria colectiva.

Os partidos, por seu lado, tornaram-se máquinas ocas, sem qualquer substância ideológica ou programa consistente. São agremiações de conveniência, sustentadas por clientelas e populismos baratos. Qualquer debate sério é imediatamente enterrado sob camadas de demagogia, porque, no fundo, ninguém quer saber da realidade. A política, em vez de resolver problemas, tornou-se um espectáculo grotesco, onde tudo se resume a encenações pomposas, frases feitas e promessas que já ninguém espera ver cumpridas.

E depois há os iluminados, essa fauna peculiar que gravita pela política como quem passa o tempo num miradouro: a ver andar. Não se comprometem, não se chateiam, e Deus os livre de gastar mais energia do que a necessária para bater charuto em sessões de chá, sempre nas margens da acção, longe de multidões ou de qualquer oportunidade de real escrutínio. São os filósofos do "não tenho nada a ver com isso", aqueles que fingem desprezar a política-espectáculo e juram não gostar de futebol, mas que nunca perdem um resultado. Sabem sempre quem subiu, quem desceu e quem vai ao play-off, mesmo que jurem não ter assistido ao jogo. O seu contributo? Um aceno vago, um sorriso cúmplice e, claro, a certeza de que, se der para o torto, já tinham avisado, sem nunca terem dito nada que se percebesse.

E o eleitorado? Esse mesmo povo que exige mudanças e depois se entrega, de olhos fechados, à mesmíssima mediocridade? Esta terra, que parece ter como passatempo a queixa sistemática, troca, sem pestanejar, o seu futuro por “slogans” e bandeiras. A verdade é esta: a Madeira não quer ser governada, quer ser entretida. Quer heróis de plástico e caricaturas de vilões, quer vitórias fáceis e derrotas que possam ser atribuídas a conspirações imaginárias.

E assim seguimos, num perpétuo estado de degradação política e intelectual, satisfeitos com líderes que não lideram, programas que não existem e debates que nunca esclarecem nada a não ser o tamanho dos umbigos. A Madeira é como uma liga do distrital, onde todos jogam mal, mas o que importa é quem grita mais alto.

E o pior é que gostamos.

Janeiro 2025

Nuno Morna



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