O Farsolas
O Dr. Ventura, a propósito de um post do meu bom amigo Carlos Guimarães Pinto, achou por bem fazer tiktokaitada onde chamou à Iniciativa Liberal "partido amaricado". Porque sou doutro tempo, um tempo em que não se levavam desaforos para casa, e porque tenho fio curto relativamente a este senhor, permitam-me o reparo.
Amaricado, meus caros, é essa triste figura que se passeia por aí, escoltado como se fosse o último imperador de um império em ruínas, quando, na verdade, não passa de um actor de terceira numa ópera bufa. É o medo vestido de couraça, a pequenez disfarçada de poder, uma demonstração patética de quem só se sente grande rodeado de homens do tamanho de armários para o protegerem. Porque Portugal é um lugar terrivelmente perigoso. As nossas ruas são autênticas selvas urbanas – ou assim pensa o "amaricado", debaixo da sua redoma de vidro e histeria.
Amaricado, também, é essa obsessão doentia por encontrar problemas onde não existem. Ver ameaças nas sombras, monstros debaixo da cama, perigos imaginários à volta de cada esquina. É viver num estado permanente de alarme – ou melhor, fingir que se vive, porque a narrativa do medo é mais útil do que a realidade da tranquilidade. Portugal é, dizem os números (mas já sabemos que o Dr. Ventura tem sempre uns outros para apresentar), um dos países mais seguros do mundo. Mas para "a bem aventurada" figurinha isso é um pormenor. Ele precisa que a insegurança exista. Não porque haja perigo real, mas porque o seu medo precisa de palco.
E há, também, a basófia. Essa fanfarronice ensaiada de quem berra para encobrir a tremedeira. A pose autoritária, os gestos grandiosos, o discurso inflamado, tudo parte de uma coreografia deprimente destinada a disfarçar a pura e simples verdade: tem medo. Medo de tudo. Medo de todos. Medo da própria sombra, provavelmente. Mas em vez de o admitir, prefere encher o peito e arrotar grandezas.
No fim, o mais irritante é a sua necessidade desesperada de inventar problemas para se justificar. Portugal, esse bastião de sossego e estabilidade, é transformado, na narrativa do amaricado, num país à beira do caos. Um cenário de pesadelo inventado para alimentar a sua fantasia de salvador. Que alguém lhe explique, por favor, que Portugal não precisa de heróis. O que Portugal precisa é de gente com vergonha na cara. Coisa que, pelo visto, o Dr. André perdeu pelo caminho.
Dezembro 2024
Nuno Morna

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