Respeito: A Verdadeira Vitória Política
Sempre tive em Alberto João Jardim um adversário político. Estamos em sítios diferentes, pensamos diferentemente.
Se existe algo que o percurso político ensina, para quem tem a paciência de o percorrer sem pressas, porque isto não é futebol, é que a verdadeira medida do sucesso não reside nas aclamações fáceis dos nossos aliados, mas no respeito — ainda que contrariado — dos nossos adversários. E que ninguém se iluda: o respeito dos adversários não se conquista com demagogias baratas ou populismos de ocasião. Exige trabalho, coerência e carácter. Exige apoio dos que connosco caminham manifestando as suas divergências e dando o seu conselho avisado.
Quando os adversários nos respeitam, é sinal de que alguma coisa foi feita bem. É sinal de que fomos capazes de articular uma visão política sólida, de que os nossos actos não foram meras jogadas tácticas, mas parte de uma estratégia mais ampla e bem fundamentada. O respeito dos adversários não se compra com palavras ocas nem com promessas vãs. Conquista-se com uma prática política que, mesmo na divergência, obriga o outro a reconhecer o valor do que está em jogo.
O problema, porém, é que vivemos num tempo em que o respeito desapareceu do vocabulário político. E a maioria das vezes isso sucede porque os intervenientes não se sabem dar ao respeito. A política transformou-se numa arena de gladiadores, onde o objectivo não é convencer o outro, mas esmagá-lo; não é dialogar, mas calar; não é construir, mas destruir. Nestas condições, ganhar o respeito dos adversários é uma quimera, porque o respeito implica a aceitação da legitimidade da diferença, e a política de hoje, polarizada e histriónica, não tolera diferenças, exige submissão.
Mas, para aqueles que ainda acreditam na política como um exercício nobre e necessário, fica a lição. Quando ganhamos o respeito dos nossos adversários, mesmo sem o procurarmos nem ser esse o fim da nossa intervenção, é porque, algures no caminho, resistimos à tentação de nos tornarmos caricaturas de nós próprios. Fizemos alguma coisa bem. E isso, nos tempos que correm, já é um triunfo que merece ser celebrado.
E é bom sabermos que temos isso nos nossos pares. E não o agradeço, porque o respeito não se agradece, faz-se por o merecer.
Janeiro 2025
Nuno Morna

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