Revolução Sobre Carris

Realizou-se ontem no Funchal uma conferência intitulada “Território e Mobilidade Urbana”, uma parceria entre a ACIF-CCIM, a Ordem dos Arquitectos e a Ordem dos Engenheiros. Uma das coisas mais interessantes que lá foi dita teve a ver com a implementação rede de transportes públicos forte, que inclua um metro de superfície desde os grandes aglomerados fora da cidade até ao centro do Funchal.

Com a queda do Parlamento Regional não terei a possibilidade de apresentar um Projeto de Resolução, que levaria como título “Recomenda a Criação de um Grupo de Trabalho para Estudo da Viabilidade da Implementação de um Sistema de Transporte de Alta Densidade”. No Preâmbulo podia ler-se: “O desenvolvimento de um sistema de transporte de alta densidade, como um metro ligeiro de superfície, surge como uma resposta viável, alinhada com as ambições regionais. A criação de um grupo de trabalho especializado para a análise detalhada e abrangente permitirá um entendimento claro dos desafios e oportunidades, bem como a formulação de um plano estratégico que maximize a captação de apoios comunitários e a sustentabilidade do projeto. Esta abordagem assegura que as soluções propostas sejam viáveis e benéficas a longo prazo.”

A mobilidade terrestre é um dos pilares fundamentais do progresso. Não há desenvolvimento económico, social ou ambiental que sobreviva sem uma estrutura de transportes eficiente. A Madeira, contudo, com a sua geografia desafiante e as decisões frequentemente inábeis que lhe têm sido impostas, vê-se aprisionada num modelo antiquado e insuficiente, incapaz de responder às exigências de um território que aspira a ser competitivo e sustentável. Por isso estava a preparar esta proposta, que recomendava a criação de um grupo de trabalho para estudar, de uma vez por todas, a viabilidade de um sistema de transporte de alta densidade na região.

Proponha-se, assim, que se criasse o GEOTRAM — Grupo de Estudo e Optimização do Transporte de Alta Mobilidade. É necessário perceber que as circunstâncias já não permitem soluções improvisadas ou a continuidade de um sistema de mobilidade baseado em promessas vagas e autocarros que nunca chegam a horas. O metro ligeiro de superfície, solução que defendo como potencialmente adequada, não é uma ideia nova nem original, mas é certamente moderna e eficaz. Outras regiões da Europa, com desafios semelhantes, souberam adaptar-se, porque não a Madeira?

A constituição deste grupo de trabalho seria, antes de mais, um exercício de inteligência colectiva. Especialistas em transportes, engenheiros civis, economistas e consultores em financiamento comunitário — todos, sem excepção, deveriam contribuir para uma análise séria, rigorosa e desprovida das habituais politiquices que costumam adiar os projectos que verdadeiramente importam. Era preciso avaliar custos, impactos ambientais, possibilidades de financiamento e, sobretudo, a verdadeira utilidade de uma solução desta envergadura. Não se tratava de atirar ideias para o ar, tratava-se de apresentar um plano fundamentado, realista e exequível.

O cronograma era claro. Em oito meses, deveria ser apresentado um relatório preliminar. Em catorze meses, o grupo teria de concluir a sua análise e apresentar conclusões definitivas, incluindo um plano de acção detalhado. Este enorme imbróglio dos transportes terrestres não pode arrastar-se indefinidamente, como tantas outras promessas feitas aos madeirenses. A Madeira, se quiser ser relevante, tem de aprender a captar os recursos de que necessita.

Esta proposta, além de ser tecnicamente necessária, é um manifesto político. É uma declaração de que a Madeira não pode continuar a ser governada como um feudo isolado, entregue a soluções provisórias e discursos ocasionalmente empolgantes, mas invariavelmente vazios. A mobilidade é uma questão estrutural, resolver os seus problemas é um dever inadiável. O GEOTRAM, se fosse levado a sério, poderia ser o início de uma mudança. Se não formos por aqui, será mais uma oportunidade perdida, e eu, por muito que me custe, já estou habituado a essas tragédias anunciadas.

Lanço este apelo — ou desafio, como preferirem: que na campanha que agora aí vem, se houver ainda um sopro de responsabilidade, encare-se a mobilidade terrestre como uma das principais prioridades, a par da aérea e da marítima . E se não o fizerem, bom, que o tempo e os madeirenses os julguem. Porque o progresso, esse, não espera por ninguém.

Janeiro 2025

Nuno Morna




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