Siga... para onde?

Não vou falar agora nesta questão, pois vejo mais longe e penso que se deve investigar a fundo, mas só em bilhética (nova e antiga) a Horários do Funchal gastou em 8 anos quase 7,5 milhões de euros… quase 7,5 milhões de euros. Registem.

O sistema de mobilidade Siga, lançado com pompa e circunstância, é uma vergonha monumental, um testemunho claro da incompetência e do desleixo que definem a governação regional. Após seis meses de actividade e um custo de cinco milhões de euros, o balanço não podia ser mais desastroso. Carreiras insuficientes, impossibilidade de carregar bilhetes pré-comprados ou renovar o passe mensal em payshops são apenas algumas das muitas queixas que se acumulam dia após dia, enquanto os cidadãos enfrentam filas intermináveis, autocarros sobrelotados e atrasos crónicos. Em vez de ser uma solução para os problemas de mobilidade da ilha, o Siga tornou-se numa metáfora da desorganização e do desperdício.

Quem, em plena sanidade mental, lança um sistema de transportes que força os utentes a comprar bilhetes exclusivamente a bordo, criando um caos diário nas paragens? Quem decide que os bilhetes pré-comprados só estarão disponíveis meses depois da implementação do sistema? Só quem jamais dependerá dele. O Siga não é um sistema de mobilidade; é uma farsa montada para agradar a meia dúzia de tecnocratas e políticos em busca de títulos de jornais. Enquanto isso, os cidadãos são tratados como figurantes de um espectáculo deprimente de improvisação e arrogância.

E depois há o custo. Cinco milhões de euros em meio ano. Para quê? Para um serviço que é pior do que aquele que existia antes. Para um sistema que não responde às necessidades reais da população, mas que foi concebido como um exercício de propaganda e aparências. Em vez de mais carreiras e autocarros decentes, temos filas intermináveis, atrasos e uma montanha de reclamações. Os responsáveis pelo fiasco apontam o dedo ao “povo” — dizem que os idosos não sabem usar o sistema, que os passageiros são “incivilizados”. É uma desculpa vergonhosa, mas típica de quem recusa assumir a responsabilidade pelos seus próprios erros.

O cúmulo da insensatez está na forma como os passes mensais e os bilhetes são geridos. Renovar um passe em payshops deveria ser uma funcionalidade básica, mas até isso foi negligenciado. O resultado? Mais filas, mais frustração e um sentimento crescente de revolta entre os utentes. A ideia de que este sistema alguma vez foi pensado para facilitar a vida dos cidadãos é, no mínimo, risível.

O que torna este caso ainda mais revoltante é que era tudo evitável. Cinco milhões de euros poderiam ter sido investidos em mais carreiras, na aquisição de novos veículos, na formação de motoristas, ou até na melhoria das condições básicas de funcionamento das linhas existentes. Mas nada disso serviria para grandes anúncios ou para sessões fotográficas de inauguração. Em vez disso, optou-se por uma solução “moderna” que não passa de um embuste mal disfarçado.

O Siga é mais do que um fracasso logístico; é um símbolo de tudo o que está errado na gestão pública. Não houve planeamento sério, não houve consulta pública, não houve preocupação real com os cidadãos. Apenas a pressa de criar algo que parecesse inovador, mas que, na prática, se revelou um desastre. Agora, perante o caos, o governo regional limita-se a desculpas esfarrapadas e a promessas vazias de que tudo se resolverá com o tempo.

O que é verdadeiramente triste — e previsível — é que este caso não será o último. O Siga junta-se a uma longa lista de projectos públicos mal concebidos, lançados sem cuidado e executados com desprezo pelo bem-estar da população. É um retrato fiel de uma governação que prioriza a propaganda em detrimento de soluções reais. Enquanto esta mentalidade persistir, a Madeira continuará refém da improvisação, do desperdício e da mediocridade. O nome do sistema, “Siga”, parece, afinal, uma cruel ironia: sigam, mas sem destino, sem rumo, e com muitas paragens para reflectir no estado em que nos encontramos.

Janeiro 2025

Nuno Morna



 

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