Uma ponte para lado nenhum
E eis que chega uma ponte para lado nenhum, a ponte pedonal na Ponta do Pargo, o mais recente monumento à genialidade visionária de Miguel Albuquerque, esse grande arquitecto do disparate. Alguém que, ao olhar para os problemas reais da Madeira — hospitais em agonia, jovens a fugir da ilha, famílias esmagadas pelo salário mínimo que minimiza a vida de cada vez mais madeirenses, conclui que o que realmente falta é uma ponte suspensa, pendurada no vazio, tal qual o próprio governo.
1,6 milhões de euros. Uma ninharia, dirão os iluminados que gravitam à volta do poder, sempre prontos a justificar a mais recente extravagância do chefe. E para quê? Para ligar absolutamente nada a coisa nenhuma. Mas não sejamos ingratos: esta obra promete transformar o já vibrante turismo da Ponta do Pargo numa irresistível meca de selfies para meia dúzia de influencers e turistas incautos. “Atracção turística”, proclamam com ar grave, como se a falta de uma estrutura de aço a balançar ao vento fosse o que impedisse a Madeira de entrar numa nova era de prosperidade.
E depois há o processo, sempre tão característico desta governação iluminada. Tudo decidido nas costas do povo, claro, porque não se pode esperar que a plebe perceba o brilhantismo destas ideias. Consultas públicas? Para quê, se a opinião popular é uma mera inconveniência? Decisões estratégicas destas são para tomar em jantares discretos, acompanhadas de um bom vinho e assinadas com a habitual subserviência às construtoras. Miguel Albuquerque manda e as construtoras riem-se, enquanto os cofres públicos se esvaziam.
Ironia das ironias, esta ponte nem sequer será pioneira. A tentativa patética de replicar a ponte de Arouca é o equivalente arquitectónico de um miúdo a copiar os trabalhos de casa do colega. Só que Arouca, ao contrário da Madeira sob este governo, pelo menos teve o bom senso de justificar o investimento com um retorno turístico sólido. Aqui, a ponte será apenas mais um cenário para alimentar o marketing político de um regime obcecado por obras de fachada, enquanto a realidade apodrece todos os dias.
Esta ponte é uma metáfora perfeita para o estado da Madeira sob a governação de Albuquerque: uma construção dispendiosa, inútil e a balançar precariamente sobre o abismo. Um verdadeiro "cartaz turístico" de um governo que já só merece figurar nos livros de história como um caso de estudo sobre má gestão, megalomania e desperdício crónico.
Janeiro 2025
Nuno Morna

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