A Ilusão Fatal do “Investimento”

Não há maior prova da absoluta indigência intelectual do nosso tempo do que a incapacidade de distinguir entre investimento reprodutivo e despesa corrente. Hoje, qualquer tolo com acesso a um microfone ou a uma folha de Excel convence-se de que basta despejar dinheiro em qualquer coisa para chamar a isso “investimento” e proclamar, com pompa e circunstância, o inexorável progresso da humanidade. Ou, e ao contrário, tecer loas à necessidade de investir menos e canalizar esse dinheiro para despesa.

Mas a realidade não tem paciência para esta retórica pueril. O investimento reprodutivo, o verdadeiro investimento, paga-se a si próprio. O que significa isto? Significa que o dinheiro aplicado gera retorno, que cria riqueza, que produz valor económico e social. Um bom investimento é aquele que expande a capacidade produtiva, melhora a eficiência, fomenta a inovação e, no fim do dia, faz crescer a economia. A construção de um útil MetroBus, a criação de uma educação séria, a aposta em tecnologia com impacto real, tudo isto são investimentos. Custam dinheiro, sim, mas devolvem-no com juros, multiplicado, sob a forma de maior produtividade, melhores empregos e novas oportunidades.

A despesa, pelo contrário, é um sorvedouro sem fundo. É dinheiro gasto sem consequência futura, uma sangria interminável de recursos sem qualquer impacto estrutural. Pagar salários e despesas de saúde, distribuir subsídios, manter burocracias obsoletas, patrocinar projectos inúteis, tudo isto é despesa. Necessária, muitas das vezes, mas sempre despesa. E, pior do que a despesa em si, é a ilusão de que se pode rebaptizar o desperdício como “investimento” e esperar que a magia do discurso o transforme subitamente numa fonte de prosperidade.

O engano repete-se ciclicamente, sempre com os mesmos resultados. Durante algum tempo, enquanto dura a festa, tudo parece bem. Mas depois chega a conta. O dinheiro desapareceu, o crescimento não veio, a produtividade não melhorou, e, com espanto fingido, os apóstolos do gasto fácil descobrem que estão mais pobres do que antes. Era inevitável. Porque gastar dinheiro é fácil, qualquer criança de dez anos sabe fazê-lo, mas investir com critério exige conhecimento, visão e, acima de tudo, a coragem de dizer “não” à demagogia do imediato.

No fim, a confusão entre despesa e investimento não é apenas um erro. É um sintoma de decadência. Uma sociedade que não sabe distinguir entre o que gera riqueza e o que apenas a consome está condenada ao fracasso e, pior, nem sequer percebe porquê. E isto, meus caros, é transversal nesta terra que amamos. Ouve-se e vê-se tanto no poder como na oposição.

Fevereiro 2025

Nuno Morna




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