A Política no Lixo

A política madeirense sempre foi um espectáculo peculiar. Durante décadas, vendeu-se a narrativa de uma Autonomia vibrante, uma espécie de “milagre insular” onde a competência e a seriedade governativa justificavam uma hegemonia de quase meio século. Na realidade, o que tivemos foi uma espécie de feudalismo tropical, onde o caciquismo, o compadrio e a corrupção foram elevados a arte de governação. Agora, após décadas a governar a Madeira como se fosse um condomínio privado, o PSD-Madeira, outrora dono e senhor da Região, encontra-se reduzido a um estado de indigência política tal que a sua resposta à decomposição do regime se resume a uma guerra de cartazes com o Chega - um partido que, em boa verdade, não passa de um prostíbulo ambulante com assento parlamentar.

O episódio é patético, digno de uma rixa de tasca mal frequentada. De um lado, um PSD em estado de putrefacção avançada, atolado em escândalos e suspeições de corrupção, incapaz de produzir uma ideia que não seja a manutenção do seu circuito de favores. Como já não consegue enganar ninguém, limita-se a fazer piadinhas de gosto duvidoso sobre malas, numa tentativa desesperada de desviar atenções do óbvio: que é, ele próprio, o epicentro do lodaçal. Do outro lado, o Chega, fiel ao seu registo de feira popular, grita “corrupção!” como um papagaio descontrolado, convencido de que o simples acto de vociferar basta para fazer esquecer que os seus próprios deputados são apanhados a roubar malas em aeroportos, como carteiristas de quinta categoria.

O mais extraordinário é que nenhum dos lados se dá ao trabalho de fingir que isto tem algo a ver com governação, políticas públicas ou, Deus nos livre, um projecto minimamente estruturado para a Região. O PSD não quer reformar nada – quer apenas salvar os ossos da sua máquina de prebendas e garantir que o saque continue, ainda que a um ritmo mais discreto. O Chega, por sua vez, não quer mudar rigorosamente nada – quer apenas substituir o PSD na distribuição das benesses, só que com mais berros e menos subtileza.

Entretanto, o eleitorado madeirense, já anestesiado depois de décadas de propaganda, assiste a este teatro de horrores sem que lhe seja oferecida uma alternativa decente. A classe política local, bem treinada na arte de parasitar o dinheiro público, percebeu há muito que a sua sobrevivência não depende de competência ou seriedade, mas apenas da manutenção desta farsa grotesca. O PSD insiste que ainda tem algo a oferecer, quando o único bem que ainda lhe resta é o “know-how” de perpetuar esquemas. O Chega finge que representa uma revolução, quando, na verdade, é apenas uma versão mais malcheirosa do mesmo populismo barato que já conhecemos.

O mais deprimente disto tudo é que nada disto interessa para o futuro da Madeira. A Região continuará a ser gerida por um PSD esgotado, sem ideias, sem estratégia e sem rumo, alternando entre escândalos e crises de histeria política. A oposição, por seu lado, não existe – limitando-se a ser uma caricatura de si mesma, um misto de indignação fabricada e populismo rasteiro. A guerra de cartazes não é um episódio irrelevante. Pelo contrário, é a metáfora perfeita da política madeirense: uma disputa infantil entre incompetentes, numa terra onde a mediocridade se tornou sistema e a falta de vergonha um requisito para governar.

P.S.: que fique claro que esta batalha de cartazes entre o PSD e o Chega não é uma excepção – é a norma. Há muitos mais por aí, cada um mais ridículo do que o outro, a demonstrar que, na Madeira, a única coisa que realmente evolui é o nível de indecência política.

Fevereiro 2025

Nuno Morna





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