Como TAP, EasyJet e Ryanair Voam à Custa do Contribuinte
Um oligopólio é aquela coisa maravilhosa em que um punhado
de empresas decide, entre sorrisos e apertos de mão, que o mercado lhes
pertence. A concorrência? Uma miragem para enganar tolos. Os preços? Ajustados
com a precisão de um relojoeiro suíço, para garantir que o consumidor, essa
criatura indefesa, pague sempre o máximo possível sem ter para onde fugir. E,
claro, qualquer tentativa de competição é rapidamente esmagada antes que ganhe
fôlego.
Na Madeira, este teatro do absurdo tem como protagonistas a
TAP, a EasyJet e a Ryanair, um trio que reina absoluto sobre as ligações aéreas
da região, transformando cada viagem num exercício de submissão do passageiro
às suas vontades. O segredo deste domínio não está na excelência do serviço
(longe disso), mas numa combinação requintada de barreiras à entrada,
proteccionismo estatal e truques dignos de um vigarista de rua que tenta vender
a Sé por tuta-e-meia. E, como cereja no topo do bolo, há a pérola da
subsidiação das passagens para residentes, um esquema tão engenhoso que faria
corar de inveja qualquer cartel sul-americano.
Se alguém se ilude com a ideia de que este é um mercado
aberto, desengane-se. Montar uma companhia aérea e operar na Madeira exige um
investimento gigantesco, do qual fazem parte taxas extorsionárias, direitos de
aterragem absurdos e uma burocracia que desencorajaria até o mais resiliente
dos empresários. Entretanto, as companhias já instaladas, essas, sim, têm o
caminho facilitado. A TAP, por exemplo, usa o velho truque do hub-and-spoke,
ligando a Madeira a Lisboa e Porto para alimentar a sua rede internacional,
garantindo que o passageiro madeirense, que só quer chegar ao continente,
financia involuntariamente uma estratégia desenhada para engordar os cofres da
empresa. Já a EasyJet e a Ryanair, mestras do disfarce, vendem a ilusão de
tarifas baixas enquanto operam em rotas cirurgicamente seleccionadas, aquelas
que garantem lucros gordos sem o incómodo da concorrência real. No final, este
sistema funciona como um clube exclusivo onde só entra quem já lá está.
Mas o golpe de mestre deste oligopólio não está na
engenharia financeira nem na suposta eficiência operacional. O verdadeiro
truque está na subsidiação das passagens aéreas para residentes, uma farsa
disfarçada de política pública. O Subsídio Social de Mobilidade (SSM), na sua
versão oficial, foi criado para garantir que os residentes da Madeira viajem a
preços acessíveis. Na prática, permite encher os bolsos das companhias, que
facturam à vontade, sabendo que o Estado cobre a diferença. Melhor ainda, este
esquema brilhante elimina qualquer incentivo para os residentes procurarem
tarifas mais baratas, até porque as não há. Se o bilhete custa 200, 300 ou 400,
que importa? O Estado paga! O passageiro não sente o impacto e as companhias,
com uma lágrima de gratidão no canto do olho, agradecem. É um negócio tão
seguro que faz parecer a venda de petróleo uma actividade de alto risco. E,
claro, qualquer nova transportadora que tente entrar no mercado é imediatamente
esmagada, porque não pode competir com empresas que sabem que os seus clientes
pagam sempre – nem que seja à custa dos contribuintes.
O circo oligopolista não se fica por aqui. A TAP, a EasyJet
e a Ryanair jogam entre si como três tubarões num aquário pequeno demais para
mais algum peixe. Ocasionalmente, fingem competir: lançam promoções que duram
pouco mais do que um espirro, mas nunca entre a Madeira e o Porto ou Lisboa,
aumentam a oferta em épocas específicas para manter o monopólio sobre o turismo
e, quando necessário, recorrem à sua arma mais eficaz, o controlo absoluto dos
slots aeroportuários. A regulação do sector, essa entidade mitológica, existe
apenas para garantir que nada muda. A TAP, escorada no seu estatuto de uma
espécie de companhia de bandeira, recebe subsídios e mantém as suas Obrigações
de Serviço Público, mesmo que encapotadas, um nome pomposo para um esquema que
a blinda contra qualquer ameaça externa. A limitação dos slots no Aeroporto da
Madeira, por sua vez, assegura que nenhuma outra transportadora possa sequer
sonhar em desafiar esta tríade sagrada. E, para garantir que nenhum aventureiro
ousa tentar a sua sorte, há sempre as taxas aeroportuárias, convenientemente
ajustadas para desencorajar qualquer veleidade concorrencial.
No fim deste espectáculo deprimente, o resultado é o
esperado. O passageiro madeirense paga (ou pensa que não paga, mas paga na
mesma através dos impostos), a TAP, a EasyJet e a Ryanair repartem entre si um
mercado sem competição e o Estado financia alegremente esta encenação de livre
mercado. A subsidiação das passagens, que deveria ser um mecanismo para
garantir acessibilidade e mobilidade, transforma-se numa máquina de perpetuar o
domínio destas três companhias, impedindo qualquer melhoria real na competitividade
do sector. O passageiro, entretanto, continua a marcar bilhetes sem perceber
que faz parte de uma vasta experiência sociológica: como criar um cartel
perfeito sem que ninguém se aperceba.
E assim segue a Madeira, refém de um oligopólio que se
alimenta da inércia política, da falta de visão estratégica e da eterna
capacidade do Estado português para subsidiar ineficiências e chamar-lhe
progresso.
Fevereiro 2025
Nuno Morna

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