Entre o Caos e a Liberdade
(para a Susana e para o Bruno)
Por estes dias houve duas pessoas que me direccionaram o
pensamento. Dois amigos com quem falei, que me levaram para uma conversa sobre
os meus escritos. Escrevo para dar ordem ao caos que me habita. Para
transformar pensamentos dispersos em algo com forma e propósito. Escrevo porque
a curiosidade não me dá descanso e porque aprender é uma necessidade quase
visceral. Cada palavra que escrevo é uma tentativa de organizar ideias, de
entender melhor o que me fascina ou o que me incomoda, e tudo, garantidamente, provoca-me
estas duas sensações.
Sou um leitor insaciável porque vejo no aprender uma das
maiores liberdades que temos. Não encaro o conhecimento como um fim, mas como
um processo. Cada livro, cada conversa, cada observação são peças que
acrescento a um “puzzle” que nunca estará completo — e talvez seja essa
incompletude que me motiva. Aprender, para mim, é uma prática diária, uma
disciplina. Mas é também algo profundamente prático: não me interessa o
conhecimento apenas pela contemplação, mas pela sua utilidade, pela forma como
pode mudar a maneira como penso ou ajo.
Tenho amigos que admiro imensamente, porque sabem muito
sobre aquilo que eu não sei. Sou o tipo de pessoa que chateia, que insiste, que
faz perguntas até à exaustão, porque acredito que rodear-me de quem sabe mais
do que eu, é uma das maiores bênçãos da vida. Não tenho medo de reconhecer a
minha ignorância, mas também não tenho paciência para superficialidades ou para
quem se acomoda àquilo que já sabe.
Com o tempo, desenvolvi métodos para canalizar esta
curiosidade. Tomo notas de tudo: das coisas que ouço, das que vejo, dos
pensamentos que surgem de repente. Tenho uma espécie de obsessão em registar,
porque acredito que cada ideia tem um potencial, mesmo que inicialmente pareça
insignificante. É assim que arrumo a mente e dou espaço para outras ideias
nascerem.
Sei que, às vezes, passo a ideia de ser arrogante. Caminho
pelas ruas distraído, perdido nos meus pensamentos, e raramente reparo nas
pessoas que cruzam o meu caminho. Mas não é desinteresse, é foco. Tenho a
capacidade — ou o hábito — de me desligar do que está à volta, porque a minha
mente está sempre ocupada a resolver alguma coisa ou a explorar uma ideia.
Escrevo e falo de maneira direta, sem rodeios, e isso pode
ser confundido com dureza. Mas nunca é com intenção de ferir, é para captar a
atenção, para provocar uma reação, para fazer pensar. Não tenho paciência para
subtilezas desnecessárias, para bajulações ou para a eterna procura de
desculpas. O erro, para mim, é algo essencial. Não só o meu, mas o dos outros.
Errar é aprender, é reconhecer limites e, ao mesmo tempo, ultrapassá-los. Não
há nada mais libertador do que aceitar um erro e corrigi-lo sem necessidade de
se justificar.
Acima de tudo, amo a liberdade. Todas as formas de
liberdade. A liberdade de pensar, de agir, de questionar, de errar. Mesmo
quando as nossas escolhas são condicionadas — seja por circunstâncias externas,
seja pela própria natureza humana — acredito que o livre arbítrio é
fundamental. É ele que nos permite exercer a nossa humanidade, definir os
nossos caminhos, assumir as nossas responsabilidades. Sem liberdade, não há
vida plena, sem a possibilidade de escolha, não há crescimento nem autenticidade.
Não perco tempo com o que não importa. A vida é curta demais
para “coisinhas”, para conversas ocas ou para afagar egos de quem se julga mais
do que é. Sou exigente, tanto comigo como com os outros, e isso nem sempre é
confortável. Mas acredito que só assim se cresce, só assim se vive de forma
autêntica. Não procuro agradar — procuro aprender, questionar, desafiar. E,
acima de tudo, procuro não deixar que a minha curiosidade perca o brilho.
Porque é ela que me guia, mesmo quando o mundo parece demasiado barulhento ou
demasiado pequeno para a fome de aprender que nunca me abandona.
Janeiro 2025
Nuno Morna

Caro Nuno, o que escreves é, também, o meu retrato. Com uma pequena diferença: a vida ensinou-me a procurar momentos de ócio. A dificil tarefa de tentar (durante algum tempo) não fazer (nem pensar). Para "limpar a cabeça". Grande abraço
ResponderEliminarVou seguir esse conselho. Já estou a travar.
EliminarAdoro ler os teus artigos.Apesar da doença continuo firme nos meus pensamentos sobre o futuro desta terra.
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