Se Portugal fosse Cristiano Ronaldo
O nosso Cristiano fez ontem 40 anos e ainda anda por aí.
Pus-me a pensar… se Portugal fosse Cristiano Ronaldo, não haveria desculpas.
Não haveria aquele eterno encolher de ombros, o recorrente “é assim, fazer o
quê?”, o conformismo mole de quem aceita a mediocridade porque sempre foi assim. Se Portugal fosse Cristiano Ronaldo, levantar-se-ia do chão sempre que
caísse, de dentes cerrados, a berrar contra a injustiça, mas a correr ainda
mais rápido para a vencer. Se Portugal fosse Cristiano Ronaldo, não precisaria
de esmolas, de subsídios para sobreviver, de bajular burocratas sem rosto a
troco de uns trocados. Criaria a sua própria sorte, meteria o país às costas,
como ele fez com a selecção naquele Europeu em Paris, e partiria, peito aberto,
contra todas as probabilidades.
Porque Portugal, tal como o Cristiano miúdo do Funchal,
nasceu pequeno, franzino, desacreditado. Uma nação encurralada no fim do
continente, com poucas terras férteis, sem ouro no subsolo, sem exércitos
colossais. Como ele, cresceu contra o mundo, desafiou impérios, construiu uma
odisseia maior do que o seu tamanho, espalhou-se pelo globo, como se a
geografia não fosse destino, como se um país tão minúsculo pudesse ser
infinito. Mas depois, como um velho campeão cansado, acomodou-se. Perdeu a
fome. Esqueceu-se de correr.
Se Portugal fosse Cristiano Ronaldo, não haveria políticos a
desculparem-se com o passado. Não haveria a ladainha eterna da crise, do fado
triste da dívida, do destino inexorável de um país que se arrasta entre
clientelismos e resignações. O Estado não seria um balofo lento e pesado,
sentado à mesa, à espera que os outros lhe resolvam os problemas. Seria um
corpo definido, esculpido à força de suor e disciplina, impiedoso para com a
incompetência, cioso da sua própria excelência.
Se Portugal fosse Cristiano Ronaldo, os empresários não
pediriam favores, não dependeriam de subsídios, não olhariam para o governo
como um pai benevolente. Abririam caminho por conta própria, trabalhariam mais
do que todos os outros, fariam do mérito a sua única moeda. Os trabalhadores
não se queixariam dos salários baixos enquanto olham para o relógio a contar os
minutos para sair. Levantariam a cabeça, exigiriam mais, mas sabendo que só têm
direito ao que conquistam, como ele, que se tornou o melhor porque ninguém
treinava tanto, porque ninguém se dedicava tanto.
Se Portugal fosse Cristiano Ronaldo, a justiça seria
implacável. Não deixaria que os que erram escapassem impunes, não fecharia os
olhos à corrupção, não enredaria tudo em processos eternos onde os crimes
caducam antes das sentenças. Se Portugal fosse Cristiano Ronaldo, a escola
ensinaria ambição e não conformismo, ensinaria a lutar e não a acomodar-se,
ensinaria a sonhar grande em vez de preparar os miúdos para o salário mínimo e
a crónica falta de casas.
Mas Portugal não é Cristiano Ronaldo. É, ainda, aquele país que foi grande, mas que hoje se contenta em ser pequeno. Que foi implacável e hoje se arrasta. Que foi um império e hoje pede autorização para existir. Cristiano Ronaldo nasceu aqui, mas não se deixou limitar por isso. Portugal deveria aprender com ele. Deveria olhar-se ao espelho e perguntar: “E se eu fosse como ele?”
Fevereiro 2025
Nuno Morna

Portugal Precisa de um Plano para o Futuro – Não Apenas de Inspiração
ResponderEliminarNuno, a tua reflexão sobre “Se Portugal fosse Cristiano Ronaldo” é poderosa e pertinente. Identificas o problema de forma certeira: a falta de ambição, o conformismo e a dependência de subsídios que nos amarram ao passado. Mas há um ponto essencial que merece ser discutido: como transformar essa inspiração num plano concreto para o futuro?
O Cristiano não se tornou o que é apenas por talento ou força de vontade. Houve um sistema à volta dele – treinadores, metodologias, desafios progressivos – que lhe permitiu crescer e potenciar ao máximo o seu talento. Da mesma forma, se queremos um Portugal mais ambicioso, mais resiliente e mais inovador, precisamos de uma estrutura que desenvolva as pessoas certas para esse futuro.
Atualmente, o nosso sistema educativo não ensina os alunos a definir objectivos, a sonhar grande, nem a preparar-se para vencer. Trabalhamos com um modelo escolar desatualizado, desenhado para uma era industrial, que avalia a repetição de conteúdos em vez de desenvolver pensamento crítico, criatividade e resiliência. Não criamos Cristianos Ronaldos noutras áreas, porque nem sequer os procuramos.
Uma Reflexão sobre o Futuro
Como observador preocupado, pergunto-me se Portugal não deveria refletir sobre a criação de um sistema mais atento ao desenvolvimento do talento – não apenas para as chamadas “altas capacidades”, mas para todos aqueles que demonstram paixão, resiliência e ambição em qualquer área.
Será que poderíamos explorar um modelo que incluísse:
- Avaliação individualizada de cada aluno, para descobrir talentos e aptidões desde cedo?
- Mentoria e orientação vocacional real, conectando estudantes com profissionais e oportunidades no mundo real?
- Desenvolvimento de competências do século XXI, como pensamento crítico, inovação, empreendedorismo e liderança?
- Maior ligação entre educação e economia, para formar cidadãos prontos para criar valor em vez de depender do Estado?
- Parcerias estratégicas com empresas, universidades e centros de inovação, garantindo que o talento tem espaço para crescer?
Mais importante ainda, este não pode ser um projeto de curto prazo, sujeito a ciclos políticos de 4 em 4 anos. Tal como a formação de um atleta de elite leva décadas de trabalho consistente, a transformação de um país exige um compromisso contínuo, que vá além de governos e partidos. Países que lideram hoje em inovação – Finlândia, Singapura, Canadá – investiram a longo prazo na educação e no talento, sem interrupções políticas constantes.
Portugal pode ser como Cristiano Ronaldo, mas não será por acaso. Precisamos de estrutura, planeamento e um compromisso sério para que isso aconteça. O talento existe. Só falta a visão para o aproveitar.
Não podia estar mais de acordo, meu caro. Estas coisas não caem do céu.
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