Trump e o Grande Embuste do Proteccionismo

Fui reler o que dizem os mestres Hayek, Friedman, Rothbard e Mises sobre as tarifas alfandegárias e, como sempre, a realidade não podia ser mais evidente: as taxas sobre trocas comerciais são um absurdo económico, um entrave à prosperidade e uma forma particularmente perversa de roubo estatal. Mas, claro, nada disto é novidade. O proteccionismo, esse fetiche dos políticos e dos burocratas, sobrevive não porque tenha qualquer mérito económico, mas porque serve os interesses de quem governa e dos grupos que vivem à custa do Estado.

O mecanismo é sempre o mesmo. O governo, na sua infinita sabedoria, decide que deve “proteger” a indústria nacional e impõe tarifas sobre produtos importados. Diz que defende os empregos, a soberania económica e a impedir que o país fique refém de potências estrangeiras. O que realmente faz, porém, é encarecer tudo o que os cidadãos compram, reduzindo a concorrência e garantindo que os amigos do regime continuam a prosperar sem terem de competir. E quem paga esta brincadeira? O consumidor, evidentemente. As tarifas alfandegárias não são pagas pelos chineses, pelos europeus ou pelos canadianos. São cobradas aos importadores, que depois repercutem o custo no preço final. Resultado: tudo fica mais caro e a qualidade dos produtos não melhora. Mas quem se importa com isto? Certamente não o governo de Trump, que vai arrecadar milhões com este esquema. Como bem explicou Mises, “o Estado não cria riqueza, ele apenas pode tomar riqueza dos seus cidadãos. Quanto mais pesada a carga fiscal sobre o comércio e a produção, menos prosperidade existirá.”

Se isto não fosse trágico, seria apenas ridículo. Como bem demonstrou Milton Friedman, a ideia de que uma economia se fortalece fechando-se ao mundo é uma tolice óbvia. “Se as tarifas realmente tornassem um país mais rico, então a maneira mais fácil de enriquecer uma nação seria proibir todo o comércio externo. Isso, obviamente, é absurdo.” Mas os governos, que sobrevivem da ignorância do povo, nunca se deixaram perturbar por estas evidências. Preferem continuar a vender a ilusão do proteccionismo, convencendo a opinião pública de que pagar mais caro pelos mesmos produtos é, de alguma forma, vantajoso.

A farsa do proteccionismo é evidente para qualquer pessoa que não tenha uma agenda política a defender. Quando um país impõe tarifas, os outros respondem na mesma moeda, dificultando as exportações. Ou seja, para “ajudar” a indústria nacional, o governo não só prejudica os consumidores, como ainda limita a capacidade das empresas de vender para o exterior. Como bem resumiu Hayek, “não há nada que beneficie mais a economia global do que a remoção de barreiras artificiais ao comércio. A história mostra que o proteccionismo é sempre uma desculpa para manter privilégios injustificados.”

Mas a verdade é que, no final, a indústria nacional não ganha absolutamente nada com isto. Se uma empresa precisa de protecção estatal para sobreviver, então significa que é ineficiente. E, se é ineficiente, só há duas soluções: ou se moderniza e aprende a competir, ou desaparece. O problema é que os políticos preferem a terceira via: subsidiar a ineficiência com o dinheiro dos cidadãos, mantendo artificialmente um sistema que só beneficia os que já têm ligações ao poder.

O que há, no fundo, por detrás das tarifas alfandegárias, é o apetite insaciável do Estado por arrecadar mais dinheiro sem que as pessoas percebam. Os impostos directos são impopulares porque as pessoas vêem claramente quanto lhes é retirado. Já os impostos indirectos, como as tarifas alfandegárias, são um verdadeiro sonho para qualquer governo. Foi Friedman quem disse, “os governos adoram impostos indirectos porque as pessoas não os percebem facilmente. O IVA é o sonho de um político, ao arrecadar fortunas sem que o cidadão comum perceba o quanto paga realmente.”

É por isso que as tarifas alfandegárias são tão perigosas. Não apenas são um entrave ao comércio, à inovação e ao crescimento económico, como são uma forma particularmente ardilosa de extorsão. Pior, são um mecanismo de engenharia social onde o Estado decide o que se pode ou não comprar, a quem e a que preço. É o contrário da liberdade económica e do liberalismo. É puro estatismo, puro intervencionismo, puro abuso.

Não há nenhuma justificação racional para a existência destas barreiras. A solução é simples: eliminá-las. Mas, como sempre, o problema não é económico – é político. O proteccionismo sobrevive porque há quem dele beneficie e porque os eleitores não se dão ao trabalho de perceber como estão a ser enganados. Como defendeu Rothbard, “os proteccionistas tentam convencer-nos de que ficaremos mais ricos pagando mais caro pelos bens que consumimos. Isso é uma falácia total. O livre comércio é o único caminho para a prosperidade.”

Mas eis quando senão, surge Donald Trump, esse génio económico incompreendido, a reinventar a roda e a decretar, com a sua peculiar mistura de ignorância e fanfarronice, que a prosperidade americana depende de encarecer tudo o que os seus próprios cidadãos compram. Porque, na cabeça de Trump – e dos seus seguidores, que não distinguem uma balança comercial de uma balança de casa de banho, a melhor forma de fortalecer a economia é obrigar os americanos a pagar mais caro pelos mesmos produtos que antes compravam a um preço mais baixo. Brilhante. Em vez de incentivar a inovação, a produtividade e a competitividade, o grande estratega decide declarar guerra ao comércio global, convencido de que os chineses e os europeus, em vez de se rirem na sua cara, vão simplesmente render-se ao seu génio proteccionista. Afinal, como já nos demonstrou a História, nunca ninguém tentou antes salvar uma economia fechando-a ao mundo… Quer dizer, tentaram, e deu sempre tragédia. Mas Trump, esse verdadeiro colosso do pensamento económico, tem a certeza de que será diferente desta vez. Trump vai vencer esta guerra comercial. Vai obrigar os chineses a pagar. Vai trazer de volta os empregos de Detroit, nem que para isso tenha de forçar os americanos a comprar carros que custam o dobro e duram metade. E tudo isto sem perceber, ou sem se importar, que no final, como sempre, quem paga a conta são os cidadãos que diz defender. Mas não há problema. Quando os preços dispararem, quando as empresas começarem a fechar e quando a economia entrar em recessão, Trump dirá, sem pestanejar, que a culpa é dos globalistas, dos democratas, dos imigrantes ou de uma qualquer cabala internacional que conspira contra o seu génio inquestionável. Porque, no mundo de Trump, a realidade é sempre opcional.

Fevereiro 2025

Nuno Morna



Comentários

  1. Muitos economistas apontam que tarifas e barreiras comerciais distorcem os mercados, tornando os produtos mais caros para os consumidores e protegendo ineficiências internas.
    Adam Smith – No seu livro A Riqueza das Nações, argumentou que o livre-comércio permite a especialização e aumenta a prosperidade global.
    •David Ricardo – Desenvolveu a teoria da vantagem comparativa, que demonstra como todos os países se beneficiam ao se especializarem na produção de bens nos quais são mais eficientes.
    Milton Friedman – Defendeu que tarifas são um imposto oculto sobre consumidores e que o livre-comércio leva a mais inovação e crescimento económico.
    Frédéric Bastiat – Foi um crítico feroz do protecionismo, ridicularizando tarifas como um meio de enriquecer produtores às custas do público.

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