Vai-te Catar!

Não há pachorra. Todos os dias, em todo o lado, aparece mais um iluminado a queixar-se de que “não aceitam a minha opinião”. Pobrezinhos. Frágeis criaturas que vivem num mundo onde discordar deles é uma forma de opressão e refutar os disparates que dizem é um atentado à dignidade humana. A tragédia do nosso tempo não é a ignorância, que sempre existiu. É o facto de os ignorantes agora se acharem uns génios incompreendidos, vítimas de um sistema que teima em não lhes dar razão.

Vamos esclarecer isto de uma vez por todas: aceitar uma opinião significa apenas reconhecer que ela existe, o que é uma evidência. Até os delírios mais absurdos existem. Mas reconhecer a existência de uma opinião não obriga ninguém a respeitá-la, muito menos a tratá-la como coisa séria. A verdade é que há opiniões que são só estúpidas, ridículas, sem fundamento ou, na melhor das hipóteses, saídas de uma mente que nunca foi obrigada a pensar dois minutos seguidos. E quando alguém se dá ao trabalho de desmontar a imbecilidade, lá vem a ladainha do costume: “Não aceitas a minha opinião! Tens de respeitar!”

Não, não tenho. Ninguém tem. O respeito não é uma esmola para distribuir a toda a gente que abre a boca. Se uma opinião é um disparate, merece ser chamada pelo nome. Se alguém diz que a Terra é plana, que as vacinas têm chips e provocam autismo ou que a história deve ser reescrita para não ferir susceptibilidades wokistas, não se pode esperar que um adulto minimamente alfabetizado ouça isto com um sorriso compreensivo e um aceno de cabeça. A única resposta aceitável é um sonoro “Vai estudar!”.

Mas o problema não é só a ignorância, é a arrogância. Estas pessoas não querem apenas ser ouvidas, querem ser reverenciadas. Não querem debate, querem submissão. E, claro, quando alguém ousa contrariá-las, não respondem com argumentos, respondem com queixinhas. Fazem beicinho, gritam “intolerância”, chamam os amigos para uma sessão de indignação colectiva e exigem que o mundo lhes peça desculpa por ter cometido a terrível insolência de pensar. No fundo, são crianças mimadas, mas em corpos de adultos, convencidas de que a discordância é um crime de lesa-majestade.

O mais divertido nisto tudo é que estas almas sensíveis, que exigem tanto respeito, são as primeiras a não respeitar ninguém. Querem que os outros aceitem sem pestanejar cada asneira que lhes passa pela cabeça, mas quando alguém lhes apresenta factos, evidências ou, Deus nos livre, lógica, desatam aos berros. São as vítimas profissionais da nossa época, seres que nunca aprenderam que viver num mundo com pessoas inteligentes é um fardo pesado para quem nunca passou do nível intelectual de uma conversa de café mal frequentado.

O resultado disto? Uma sociedade cada vez mais burra, onde se espera que as pessoas instruídas tenham paciência infinita para a estupidez alheia e onde qualquer tentativa de elevar a conversa acima do nível do senso comum é vista como elitismo. Uma sociedade que tolera tudo, menos a inteligência, onde qualquer parvoíce tem de ser levada a sério para não ferir susceptibilidades e onde se exige respeito para opiniões que nem merecem um minuto de atenção.

Mas o mundo é o que é. E no fim, depois do pranto, depois da indignação, depois das acusações de intolerância, tudo fica igual. A mesma mediocridade, a mesma ausência de pensamento, o mesmo medo de crescer, porque crescer implica ouvir, implica errar, implica aprender, e tudo isso exige um esforço que poucos estão dispostos a fazer. É muito mais fácil guinchar “não aceitas a minha opinião” do que construir uma que valha a pena aceitar.

PS: não estou com isto a dizer que não respeito aquilo que entendo ser asneira, claro que respeito. A asneira é livre. Mas também é um direito não concordar e dizer por quê.

Janeiro 2025

Nuno Morna



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