Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2024

REDE SOCIAL, 30 dezembro 2024

Imagem
REDE SOCIAL Sai 2024 e entra 2025   1.    2025: Que não fiquemos à porta As páginas que imagino, rasuradas pelo tempo que ainda não chegou, continuam a narrar este anseio por uma Madeira que se redescobre e se reinventa no limiar de uma nova era. O liberal que me habita, solitário nos seus pensamentos, mas vasto nas suas aspirações, expande a sua visão para além das rotas já traçadas. No campo da política, este desejo traduz-se numa governança transparente e responsável, onde cada euro investido seja um euro que retorna aos madeirenses em forma de serviços, infraestruturas e oportunidades. Anseia-se por uma gestão que se despoje dos vícios do clientelismo e que seja, em essência, uma plataforma de diálogo constante entre o cidadão e o Estado. Onde o debate político não se confine às paredes fechadas das instituições, mas se espalhe pelas praças e pelas ruas, num diálogo aberto e construtivo que acolhe todas as vozes. Economicamente, almeja-se uma ilha que seja...

As Fantasias da Estatística

Imagem
Acabou de sair o Boletim Trimestral de Estatística da Madeira. Nesta recente edição, a administração regional insiste, com um descaramento quase tocante, em pintar um quadro de prosperidade e progresso ininterruptos. Nesta obra de ficção estatística, somos bombardeados com a proclamação de um crescimento económico que já dura há 42 meses, um feito que, ao que parece, deveríamos celebrar com espumante de terceira durante uma visita do Sr. Presidente do Governo ao Salão Mikelina. Mas uma leitura atenta revela uma tapeçaria de omissões e distorções que roça o delírio. A começar pela demografia, o boletim menciona, em passagem rápida e descomprometida, um saldo natural persistentemente negativo. Não se detém, claro está, nas causas ou consequências deste fenómeno, talvez porque uma reflexão mais profunda desvendaria uma realidade incómoda sobre o êxodo dos nossos jovens, uma taxa de natalidade muito reduzida e o envelhecimento da população. Mas por que perder tempo com trivialidades que ap...

Domingo à Direita: Um Guia Prático para Reacionários de Sofá

Imagem
[Tropecei num texto que escrevi aqui há uns anos e decidi reescrevê-lo] Domingo, o dia sagrado que Deus criou exclusivamente para os direitistas se glorificarem na sua superioridade moral. Pois que outra classe de gente poderia ter a audácia de dormir tão opiparamente como eu o fiz? Acordei envolto no luxo das minhas boxers de seda de direita, claramente desenhadas para oprimir as minhas massas proletárias, e dirigi-me ao mundo com a altivez que só um conservador pode ostentar. Na bomba de gasolina, atestei o carro como um bom burguês de direita: sem olhar para o preço, claro, porque preocupação com o orçamento é coisa de esquerdalha. Um chá e uma torrada foram o mata-bicho — um pequeno-almoço tão reacionário que até o Earl Grey me olhou de lado. Voltei a casa para buscar a mulher (que, por sinal, estava deslumbrante, como compete a qualquer esposa de um homem de direita) e a filha, que, como manda o manual do bom burguês, frequenta um colégio privado onde aprende latim e desprezo pela...

O Espetáculo Populista

Imagem
Que fique claro que me falta a paciência para o Dr. Ventura, o Chega e "sus muchachos". Deixei de ter capacidade de lhes aturar e desculpar as mentiras, as parvoices, a manipulação, o alarmismo, a teatralidade rasca, a retórica demagora e a falta de razão. Neste folhetim melodramático e desesperado por atenção, acrescente-se agora mais um episódio a esta fotonovela, digna de um qualquer Corin Tellado, pela mão do deputado Francisco Gomes, que acaba de nos presentear com o que podemos chamar de circo político de mau gosto. Acredite-se ou não, o Sr. Gomes desenterra os mais arcaicos fantasmas xenófobos e embrulha-os numa retórica de "transparência" e "segurança". É de perguntar se acredita genuinamente nas palavras que profere ou se, simplesmente, vê vantagem eleitoral em fustigar as chamas do medo e da ignorância. Para começar, o nosso ilustre deputado parece ter uma compreensão da realidade tão distorcida que, se não fosse trágico, seria material para co...

O Obrigado da Moderna Hipocrisia

Imagem
Gratidão. É uma dessas palavras que, de repente, se alcandorou ao léxico da moda nos círculos da modernidade apressada, que ganha eco no pretenciosismo. Era comum agradecer-se com um “obrigado” ou, para os mais formais, um “muito obrigado”. Agora, no reino dos iluminados, o “obrigado” parece ter caído em desgraça. Para muitos, perdeu a solenidade ou a profundidade. Então, chegou a “gratidão” – um termo pomposo, carregado de um misticismo pseudo-transcendental. Como se cada acto de agradecimento tivesse agora de remeter para o absoluto ou para a espiritualidade. As pessoas que usam “gratidão” não estão, muitas vezes, verdadeiramente gratas. Querem, isso, sim, parecer superiores. Um “obrigado” é terreno demais, comum, quase vulgar. Já “gratidão” eleva quem a pronuncia. Dá-lhe a aparência de uma alma nobre, em sintonia com o universo, como se estivessem a escrever uma mensagem ao cosmos em vez de responder a um simples favor. E não podemos esquecer, claro, a dimensão exibicionista: a pala...

Epifania de Natal

Imagem
Que este Natal lhes pese, aos que governam, como um espelho pesado, cravado na parede das suas consciências. Que não seja só mais uma quadra de discursos vazios e inaugurações apressadas, mais uma desculpa para se enfeitarem de importância, como se a grandeza fosse um fato que se veste e despe. Que este Natal os alcance como uma revelação inclemente, daquelas que arrancam a alma do sono e obrigam o corpo a andar pelos corredores vazios à procura de respostas que nunca chegam. Desejo-lhes, mais do que prendas ou festejos, uma luz incómoda que os obrigue a olhar para o que não olham: para a Madeira real, a que não cabe nos relatórios nem nas fotografias de fachada. Que vejam as pedras das ruas onde já não há passos leves, as casas que se encolhem para aguentar o vento, os rostos que se fecham para suportar o tempo. Que sintam, mesmo que só por um instante, o peso de governar, não como um privilégio, mas como um fardo, o mais nobre dos fardos: o cuidar. Que este Natal os ensine, se aind...

REDE SOCIAL, 23 dezembro 2024

Imagem
 A Noite do Mercado e a Casa da Amelinha   1.    Noite do Mercado A Noite do Mercado, uma celebração que em tempos foi viva, autêntica, um corpo pulsante da Madeira genuína, transformou-se, hoje, num teatro organizado, numa mise-en-scène onde tudo é demasiado limpo, demasiado arrumado, demasiado morto. Caminha-se pelas ruas e percebe-se logo: a espontaneidade foi assassinada e substituída por um folclore embalsamado, um espectáculo com hora marcada, coreografado por quem acha que a tradição é coisa que se possa vender em copos de plástico. Lembro-me, há muitos quilos atrás, de ver os agricultores das serras a descerem ao Funchal, carregados de fruta, flores e cheiro a terra, a lama seca nos sapatos, os dedos calejados a segurarem laranjas como se fossem o coração de Cristo. Lembro-me de ouvir as vozes a erguerem-se, desafinadas, nas cantigas improvisadas, e do cheiro da carne de vinha-d’alhos a misturar-se com o fumo dos cigarros e o hálito quente da poncha. ...

"Políticamente Indeseable", de Cayetana Álvarez de Toledo

Imagem
Para quem segue o que se passa politicamente no país vizinho, não surpreende que uma figura como Cayetana Álvarez de Toledo tenha dado à luz um livro tão audacioso quanto " Políticamente Indeseable" . Desde o primeiro parágrafo, somos confrontados com uma prosa lúcida e feroz de alguém que recusa as convenções complacentes do mundo político contemporâneo. Não será novidade a sua luta contra o populismo e a degradação ética da política, mas aqui, mais do que uma denúncia, encontra-se um manifesto. O livro é uma obra de múltiplas camadas: crónica de uma desilusão política, ensaio sobre os perigos que ameaçam a democracia e, em parte, uma comovente evocação das suas raízes familiares. Cayetana revela-se uma observadora implacável, sem piedade para com os seus pares e para consigo mesma. A sua defesa da razão e da verdade como fundamentos do ofício político é, ao mesmo tempo, um acto de coragem e uma confissão de fracasso. “Lutou contra o indesejável até se tornar ela própria ind...

Duodécimos para o povo e orçamento ilimitado para o cartão laranja

Imagem
A falta de um Orçamento aprovado, que para alguns parece ser o apocalipse administrativo, não passa de uma desculpa conveniente para a mediocridade política. A prorrogação do Orçamento anterior, em regime de duodécimos, é um mecanismo perfeitamente funcional, que não só assegura a continuidade da governação como impede que os governos usem o caos como ferramenta de chantagem emocional sobre a população. Evidentemente, só um governo que não sabe governar poderia ver neste regime um "impedimento" para a execução de obras como o Novo Hospital da Madeira, a Unidade Local de Saúde do Porto Santo ou qualquer outra iniciativa minimamente estruturada. O ponto 4 do art.º 86 da Lei de Enquadramento Orçamental é claríssimo ao sublinhar que despesas sociais, programas de protecção e direitos dos trabalhadores são prioritários, inadiáveis e, imagine-se,  protegidos . Isto significa que não é por falta de Orçamento aprovado que as obras do PRR ou os apoios sociais deixam de avançar. Se par...

A Casa da Amelinha

Imagem
Miguel Albuquerque, na sua infinita sabedoria e superioridade iluminada, declarou, com o ar de um César provinciano, que “isto não é a casa da Amelinha”. Extraordinário! Quem diria que o presidente, depois de anos a transformar a Madeira num circo de incompetência e amiguismo, ainda tem a audácia de fingir que reina sobre um modelo de rigor e disciplina. Não, caro presidente, não se iluda:  isto é precisamente a casa da Amelinha , e o senhor não é mais do que o porteiro incompetente que perdeu as chaves, deixou os ratos tomarem conta da dispensa e agora culpa os inquilinos por não limparem o lixo que o senhor espalhou. A sua governação é um caso de estudo na arte de destruir qualquer vestígio de seriedade. Sob a sua batuta desafinada, o Governo Regional transformou-se numa tragicomédia de terceira categoria, onde os actores tropeçam nos seus próprios papéis e os bastidores ardem enquanto o público assiste, impotente, ao desastre. O senhor gaba-se de grandes feitos – obras, festas, ...

O Banquete dos Mediocres

Imagem
Imaginem um circo. Não o circo romano, claro, porque isso implicaria alguma forma de talento ou destreza, por mais sanguinária que fosse. Não, falo de um circo decadente, daqueles com lona rasgada e palhaços gastos que tropeçam uns nos outros ao som de cornetas desafinadas. Esse é o palco em que o Governo Regional decidiu, mais uma vez, exibir o seu número favorito: o assalto à coisa pública - dessa vez com a entrega solene de meia centena de tachos devidamente polidos e prontos para o uso. Após uma Moção de Censura que devia ter servido para pelo menos disfarçar alguma vergonha, eis que os diligentes senhores do poder decidiram premiar-se com mais nomeações. Fizeram-no com a graça de um elefante bêbedo em loja de porcelanas. Porque não basta sobreviver politicamente. É preciso celebrar. E como se celebra na Madeira do Presidente Miguel Albuquerque? À madeirense: enfardando os cofres públicos até à náusea, dando um emprego aqui, um lugar acolá, e, de preferência, sem esquecer o primo,...

Desleixo Fitossanitário

Imagem
É absolutamente escandaloso, senão criminoso, que na Madeira, terra de um ecossistema único e frágil, se permita a entrada e comercialização de madeira infestada por insectos, trazida da China, sem que as autoridades responsáveis levantem um dedo até ao momento em que o problema já se encontra exposto nas prateleiras de uma grande superfície. Onde está a fiscalização? Onde está a responsabilidade? Onde está o brio que deveria guiar a acção pública nesta Região? A Madeira não é apenas um pedaço de terra com belas paisagens. É um tesouro natural, um enclave de biodiversidade irrepetível que, ao longo dos séculos, foi alvo de sucessivas ameaças externas – sempre enfrentadas com desleixo e, diga-se, com uma dose considerável de ignorância. Agora, descobrimos que madeira e bambu infestados – infestados ao ponto de estar ocos e cobertos de farelo – chegaram, não só à ilha, mas aos escaparates, sem que ninguém reparasse ou actuasse antes do dano estar feito. É uma vergonha. A nota de imprensa...

Moção de Censura - Intervenção no Debate

Imagem
Deixo aqui a minha intervenção de hoje no Debate da Moção de Censura. Está a versão longa, pois tive de cortar umas partes devido ao pouco tempo que tinha. Intervenção na ALRAM – Moção de Censura   Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Permitam-me começar pelo essencial: esta Assembleia é, ou deveria ser, a casa da Autonomia. Não a autonomia simbólica, não a autonomia de conveniência, mas a Autonomia dos madeirenses. A autonomia que nos foi entregue não como dádiva, mas como reconhecimento da nossa capacidade de nos governarmos, de decidirmos o nosso futuro, de sermos donos do nosso destino. E, no entanto, olhem para o que estamos aqui a fazer hoje. Como é que chegámos ao ponto de estar, nesta mesma casa da Autonomia, a discutir uma moção de censura que não é nossa? Uma moção que não nasce da nossa realidade, dos nossos problemas ou sequer do nosso entendimento do que aqui se passa, mas que nos é imposta por Lisboa. Como é que podemos permitir que o Chega, p...