Kit de sobrevivência para a política madeirense

Dei por mim a pensar, enquanto olho o mar encarquilhado de cinza ao fundo da varanda, que sobreviver na política madeirense, é uma coisa suja, triste, antiga como as nódoas que deixei sobre a camisa, uma coisa para homens de couraça fria, para quem aprendeu cedo que as virtudes são uma espécie de fé-de-ofício para enganar os tolos, e os que não são tolos acabam por se enganar a si próprios, porque querem, porque precisam, porque a ilusão é mais confortável do que o pânico. Quem ousa meter o pé nesse charco que fede a promessas podres precisa, antes de mais, de um kit, como quem vai à guerra, como quem se mete numa pescaria sabendo que vai regressar sem peixe e com o barco furado. Um capacete anti-rataria, primeiro, apertado ao crânio como os capacetes dos mineiros. E não é para menos, porque na Madeira cava-se debaixo dos outros como se o respeito fosse uma doença vergonhosa, um hábito de fracos, cava-se sob a pele, cava-se sob os discursos de afecto, cava-se sob o sorriso de verniz, e...