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A mostrar mensagens de janeiro, 2025

Madeira sem remédios, Governo sem vergonha

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Cada dia que passa confirma que a Madeira vive um escândalo sanitário de proporções terceiro-mundistas. A falta de medicamentos, denunciada pela Ordem dos Médicos, não é um incidente isolado, uma pequena falha de gestão que se possa corrigir com meia dúzia de ajustes técnicos. Não. É um sintoma de uma governação podre, incompetente e irresponsável, sustentada por décadas de clientelismo, amiguismo e arrogância. O que acontece na Saúde da Madeira não é um erro: é um crime. Os hospitais da região, outrora apresentados como um suposto “exemplo” do modelo autonómico, não conseguem sequer garantir o básico — os medicamentos essenciais para tratar os doentes. É preciso repetir para que se entenda a gravidade do que está em causa: não há medicamentos. As prateleiras estão vazias, os médicos são obrigados a improvisar terapias, a substituir fármacos sem qualquer critério que não seja a sua mera disponibilidade ou escassez. E o Governo Regional e o Secretário da tutelo, Pedro Ramos, como semp...

O Dia em que Portugal Descobriu que Podia

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A cabeça fervilha, as mãos suadas sobre os joelhos, o coração a latejar como se alguém lhe tivesse metido dentro um bombo maluco, e os olhos presos no ecrã, naqueles tipos que se atiram uns contra os outros, ombro no ombro, gritos nas bancadas, um treinador qualquer a vociferar como um padre em missa de corpo presente. O andebol sempre foi o meu desporto, uma espécie de luta de rua com regras. Mas agora, agora que Portugal está ali, a disputar o lugar entre os grandes, agora que cada passe, cada remate, cada defesa conta como se fosse o último momento da tua vida, roo os dedos. Entendo que há coisas que se fazem com os músculos e com o cérebro, mas acima de tudo com esse fogo que só algumas pessoas têm, esse impulso de não se renderem, de não aceitarem a ordem natural das coisas, de não se verem como coitadinhos, de não estarem sempre a contar os tostões do seu destino. Ver um deles, aquele miúdo que ninguém dava nada por ele, enfiar-se pelo meio dos alemães como quem se enfia por uma ...

A violência doméstica deprime-me

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Talvez porque sei de mulheres que falam baixinho para não acordar a fúria. Talvez porque vi olhos de criança que aprenderam demasiado cedo a não chorar. Talvez porque me lembro daquela vizinha que fugiu de casa de madrugada, pés descalços, o sangue a pingar da testa, e ninguém fez nada. A violência doméstica deprime-me porque se repete, porque se propaga como um vírus nos corredores de prédios velhos e nos becos de bairros novos, nos sorrisos cortados pela metade das mulheres que dizem estar tudo bem, nos homens que batem porque podem, porque sempre puderam, porque lhes ensinaram que amar também se faz à pancada. Deprime-me porque vejo o mundo avançar, a tecnologia a crescer, os carros a andar sozinhos e a inteligência artificial por todo o lado, mas ainda há gente que fecha a porta de casa e transforma a sala numa arena, onde cada insulto é um soco e cada noite é um campo de batalha. Deprime-me porque o medo tem cheiro, e eu já o senti. Na roupa lavada das vítimas que tentam esc...

Falha Imperdoável de Marcelo e das Instituições

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A publicação da Lei Orgânica n.º 1-A/2025, nova Lei Eleitoral da Madeira, e os erros associados à sua aplicação representam um escândalo jurídico e político de enorme gravidade. Esta situação demonstra uma inadmissível falha institucional, tanto a nível técnico como político, especialmente porque o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, é um constitucionalista de renome, apoiado por um gabinete jurídico especializado. É inaceitável que se permita uma situação onde os princípios fundamentais do Estado de Direito e a Constituição da República Portuguesa não sejam escrupulosamente respeitados. A Constituição é clara no que respeita à aplicação das normas eleitorais, estipulando que deve ser seguida a legislação em vigor no momento da dissolução do órgão em causa. O erro cometido, seja por negligência ou por falta de coordenação entre as instituições, é uma afronta ao rigor exigido no funcionamento do sistema democrático. Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto jurista experiente, t...

O Feudo da Banana

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A GESBA é um retrato fiel do mais primitivo caciquismo que governa a Madeira. Não se trata apenas de uma empresa pública. Trata-se, antes, de uma máquina de poder, sustentada no monopólio absoluto sobre o sector da banana, cujo objectivo real não é auxiliar os agricultores, mas sim garantir a perpetuação de um sistema de dependência económica e política que mantém a região refém de quem a governa há décadas. A chantagem exercida sobre os produtores, forçando-os a abdicar de qualquer liberdade comercial para aceder a subsídios que, recorde-se, vêm da União Europeia e não da generosidade da GESBA, é a prova mais evidente do carácter autoritário e feudal deste modelo. Isto não é política agrícola, isto é o tipo de manobra que, em tempos mais honestos, se chamaria exploração pura e dura. Como se justifica que os agricultores recebam 30 cêntimos por quilo, enquanto a mesma banana é vendida no continente por de sete a quase dez vezes mais? Não se justifica, e nem sequer há um esforço par...

Siga... para onde?

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Não vou falar agora nesta questão, pois vejo mais longe e penso que se deve investigar a fundo, mas só em bilhética (nova e antiga) a Horários do Funchal gastou em 8 anos quase 7,5 milhões de euros… quase 7,5 milhões de euros. Registem. O sistema de mobilidade Siga, lançado com pompa e circunstância, é uma vergonha monumental, um testemunho claro da incompetência e do desleixo que definem a governação regional. Após seis meses de actividade e um custo de cinco milhões de euros, o balanço não podia ser mais desastroso. Carreiras insuficientes, impossibilidade de carregar bilhetes pré-comprados ou renovar o passe mensal em payshops são apenas algumas das muitas queixas que se acumulam dia após dia, enquanto os cidadãos enfrentam filas intermináveis, autocarros sobrelotados e atrasos crónicos. Em vez de ser uma solução para os problemas de mobilidade da ilha, o Siga tornou-se numa metáfora da desorganização e do desperdício. Quem, em plena sanidade mental, lança um sistema de transpor...

Só Resta a Traição

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A lealdade é, na política, um dos valores mais essenciais e, simultaneamente, mais incompreendidos. Quando um amigo me perguntou, há dias, qual seria o valor que mais prezava na política, hesitei por um momento, mas a resposta surgiu com a inevitabilidade de uma verdade há muito intuída: a lealdade. Não me refiro, note-se, a uma lealdade cega, acrítica ou submissa, mas àquela lealdade que sustenta projectos comuns, que resiste às tentações do egoísmo e ao peso das circunstâncias adversas. A lealdade, essa virtude hoje quase anacrónica, é o cimento que mantém intactas as relações humanas e políticas num mundo onde o oportunismo e a traição se tornaram regras não escritas do jogo. A política é, por definição, um terreno de conflito. E é precisamente nos momentos de maior tensão, quando os interesses se chocam e as pressões externas corroem até os mais sólidos alicerces, que a lealdade revela o seu valor inestimável. Não basta concordar ou cooperar em tempos de prosperidade, o verdadeir...

Financiar o Desastre com Estilo

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Ouve-se muito por aí. “Já gastámos milhões”, “injectámos milhares”, “vamos despender mais dinheiro”. Há um problema, é encharcá-lo com dinheiro. Investir mais. A panaceia universal. Um bordão que qualquer político mediano repete como se tivesse descoberto o segredo da alquimia moderna. Transformar problemas crónicos em sucesso com umas quantas malas de dinheiro. “Mais dinheiro para a saúde!”, proclamam eles, como se o simples acto de despejar euros fosse curar um sistema onde cada consulta é uma odisseia e cada cirurgia um milagre agendado para as calendas gregas. “Mais fundos para a educação!”, berram outros, enquanto inauguram escolas que parecem centros comerciais, mas que continuam a produzir analfabetos funcionais em série. Como é fácil governar com esta fórmula: gastar mais e pensar menos. O que ninguém se atreve a dizer — talvez porque não convém, talvez porque a mediocridade lhes bloqueia o raciocínio — é que a quantidade de dinheiro investido é irrelevante quando não há comp...

"São algas senhor, são algas"

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A Fábrica das Algas no Porto Santo é um daqueles projectos delirantes que só podiam nascer da cabeça de uma certa elite(?) política regional, sempre ávida de inventar alguma coisa grandiosa para justificar a sua própria existência. É o retrato perfeito de uma região autónoma que gosta de sonhar acima das suas possibilidades, com uma noção de progresso que mistura má ciência, pior gestão e um total desprezo pela realidade. Desde o início que tudo cheirava a desastre. A ideia de transformar microalgas em biocombustível para tornar o Porto Santo energeticamente autónomo era, no mínimo, absurda. Qualquer pessoa com dois dedos de testa percebia que os custos de produção seriam incomportáveis e o mercado global não estava à espera de uma pequena ilha no Atlântico para resolver os seus problemas energéticos. Mas, claro, não faltaram os discursos solenes, as promessas de inovação, as inaugurações com pompa e circunstância, e aquele eterno optimismo provinciano que confunde mediocridade com g...

REDE SOCIAL, 20 janeiro 2025

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REDE SOCIAL Frente Cívica (2) e Economia Social de Mercado 1.    Na semana passada, aventei a possibilidade de uma Frente Cívica como resposta à crise política e estrutural da Madeira. Hoje, gostaria de explorar com mais detalhe o que considero ser a base necessária para um modelo de desenvolvimento sustentável: a aplicação, devidamente adaptada, da Economia Social de Mercado. Dito de forma simples, seria o casamento – sempre difícil e desafiante – entre o dinamismo de um mercado livre e a justiça social. Uma solução tão promissora quanto exigente, que requereria mais do que a gestão apática e clientelista a que a Madeira nos habituou. Convém começar pelo óbvio: o modelo de Economia Social de Mercado, tal como idealizado por Ludwig Erhard, não é um slogan vazio. Foi uma resposta prática a um país devastado pela guerra, com uma economia destruída e uma sociedade profundamente fracturada. E funcionou, não porque fosse perfeito ou infalível, mas porque combinava princípios de...

Chega: A Autocracia de Ventura e o Disfarce de Democracia

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O Chega, esse modelo de democracia e pluralismo, caminha, passo a passo, rumo ao autoritarismo absoluto. O que se passou na Madeira, com a Moção de Censura apresentada, é um exemplo claro do que é o verdadeiro espírito democrático do partido: a vontade de um homem. E quem é esse homem? Ora, o insubstituível, o imprescindível, o mago, o erudito e sapiente André Ventura, claro. O verdadeiro comandante da "liberdade", o experiente e experimentado, que com um gesto de pura elegância política, desfaz qualquer decisão interna que não lhe agrade. E quem, afinal, são esses órgãos regionais, esses seres irrelevantes e minúsculos, que se atrevem a questionar a sua vontade? Quem? Nada mais que obstáculos para o grande Ventura, o abençoado, o único que entende o que é melhor para o Chega e, claro, para a nação. Ventura, o Ousado, o maior de todos os portugueses, essa figura mofenta e salazarenta, impôs à Madeira a sua vontade, porque precisa de saltitar de caso em cima de caso, pois sabe...

A Saúde Morre à Espera

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A tragédia da saúde pública na Madeira seria um enredo perfeito para um romance deprimente de má literatura: desorganização, propaganda e uma pitada de cinismo barato. A questão não é só a falta de medicamentos para os doentes oncológicos – o que já seria suficiente para qualquer governo civilizado cair de joelhos em vergonha. A verdadeira questão, mais funda e corrosiva, é a evidência de que a vida humana, nesta região, não vale um chavo. Na Madeira, as prioridades não são pessoas, mas inaugurações, discursos tontos, aplausos e fotografias. Uma obscenidade política travestida de governação. O Governo Regional, com a sua peculiar noção de serviço público, gosta de nos lembrar, de forma patética e auto-complacente, os "milhões" que investiu na saúde. Ora, onde estão esses "milhões"? Foram parar às palmas e bajulações em frente ao hospital? Às inaugurações de serviços que, meses depois, não têm nem pessoal, nem medicamentos? Os madeirenses ouviram durante anos um disc...

A Farsa de Pedro Ramos

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Pedro Ramos, do alto da sua empáfia militante, foi a Santa Cruz dizer… coisas. Huuuuuuuu… que medo! As declarações de Pedro Ramos são um monumento ao disparate e uma prova viva de que, em certas figuras do governo da Madeira, o instinto de sobrevivência política não conhece limites de decência. Dizer que “todos aqueles que não gostam da Madeira estão identificados” é digno de um filme de espionagem de quinta categoria. Quem são estes “inimigos da Madeira”? Pessoas que ousam criticar a gestão de Miguel Albuquerque e seus apêndices? Indivíduos que não aplaudem de pé as catástrofes orçamentais, os problemas na saúde, na segurança social, na mobilidade ou os habituais lapsos de competência do governo regional? Devemos aguardar fichas policiais para todos os opositores, ou é apenas mais uma bravata de um governo que confunde críticas com conspirações? Será Pedro Ramos o chefe secreto de uma STASI ou de um regional KGB? Não contente com o que já ia dito, Pedro Ramos, qual cronista épico ...

Revolução Sobre Carris

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Realizou-se ontem no Funchal uma conferência intitulada “Território e Mobilidade Urbana”, uma parceria entre a ACIF-CCIM, a Ordem dos Arquitectos e a Ordem dos Engenheiros. Uma das coisas mais interessantes que lá foi dita teve a ver com a implementação rede de transportes públicos forte, que inclua um metro de superfície desde os grandes aglomerados fora da cidade até ao centro do Funchal. Com a queda do Parlamento Regional não terei a possibilidade de apresentar um Projeto de Resolução, que levaria como título “Recomenda a Criação de um Grupo de Trabalho para Estudo da Viabilidade da Implementação de um Sistema de Transporte de Alta Densidade”. No Preâmbulo podia ler-se: “O desenvolvimento de um sistema de transporte de alta densidade, como um metro ligeiro de superfície, surge como uma resposta viável, alinhada com as ambições regionais. A criação de um grupo de trabalho especializado para a análise detalhada e abrangente permitirá um entendimento claro dos desafios e oportunidade...

A Culpa é do Povo

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Herberto Jesus, o presidente do Conselho de Administração do SESARAM, encontrou finalmente uma solução para os crónicos problemas do sistema de saúde madeirense: culpabilizar os utentes. É verdade. A falta de camas hospitalares, que seria, à partida, uma consequência óbvia de décadas de desleixo e incompetência estrutural, não é culpa da administração, nem do governo regional. É culpa de quem adoece. Isto não é só um insulto à inteligência, é a expressão pura de um cinismo institucional que grassa na nossa terra. Ao invés de reconhecer o evidente: que o sistema de saúde regional foi deixado à míngua por sucessivas administrações incapazes de planear o futuro, Herberto Jesus decide atribuir aos cidadãos a responsabilidade pelos próprios sofrimentos. Se isto não fosse tão trágico, seria apenas ridículo. A questão das camas — ou da falta delas — é apenas o reflexo de um sistema apodrecido. Não há recursos, não há pessoal suficiente, não há planeamento. As urgências transbordam, os pro...

Inflação 2024: Assalto ao Bolso dos Madeirenses

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Como começar sem mencionar o imposto invisível e o mais eficaz de todos? Um dos impostos que qualquer governo aprecia. Aumentam os preços e aumenta a colecta por parte do estado. A inflação, esse ladrão gentil que não escolhe bolsos. Enquanto os salários permanecem estagnados, os preços galopam alegremente ao sabor da alegada conjuntura económica. É uma forma tão subtil de espoliação que quase merece aplausos… quase. A inflação na Madeira, esse discreto demónio dos tempos modernos, fez o favor de descer de um exorbitante 5,0% para um ainda robusto 3,3% em 2024. Naturalmente, as autoridades festejarão este acontecimento como uma vitória da economia insular, um milagre matemático que só não convence aqueles que, infelizmente, têm de viver com as consequências destes números no seu dia-a-dia. Comecemos pela inflação subjacente, esse verdadeiro termómetro do sofrimento do cidadão comum, que se manteve a um caloroso 3,7%. Esqueçam os produtos alimentares não transformados e energéticos,...

Vergonha Diplomática

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Devo confessar que a recente decisão do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, de se deslocar a Moçambique para assistir, hoje, à tomada de posse de Daniel Chapo como Presidente da República daquele país, não me surpreende. Este tipo de subserviência diplomática, tão característica da política externa portuguesa, é um traço que persiste, imune ao tempo e à vergonha. Não se trata apenas de um erro de cálculo, é, como sempre, uma demonstração clara da nossa incapacidade crónica de assumir uma posição digna e coerente no plano internacional. Não sejamos ingénuos. A presença de um representante oficial de Portugal num acto que consagra um regime eleito através de métodos fraudulentos é, na prática, uma validação tácita da fraude. É um gesto que diz, alto e bom som, que as proclamações lusitanas sobre a democracia e os direitos humanos não passam de retórica vazia, prontamente descartável quando os interesses estratégicos o exigem. Não nos iludamos, ao participar nest...